sábado, 26 de maio de 2018

Us and Them

Img.I - Fotografia do concerto 
No passado dia 21 de Maio (segunda-feira), Roger Waters, músico de 74 anos que pertenceu aos Pink Floyd, esteve de volta a Portugal com a  digressão europeia Us + Them, onde tocou músicas dos álbuns mais conhecidos como The Dark Side of The Moon, The Wall, Animals, Wish You Were Here, além de algumas músicas do seu novo álbum Is This the Life We Really Want?.  Eu estive lá. 

Desde fábricas projetadas em 3D a um porco voador gigante, as performances de Roger Waters foram experiências sensoriais emergidas com uma produção audiovisual de última geração e som quádruplo de tirar o fôlego. 

Roger organizou o concerto em duas partes e transformou-o num grande espetáculo satírico. A primeira parte foi uma introdução para a segunda. O cantor tinha apenas um painel atrás de si com vídeos, animações ou efeitos visuais a passar, que ilustravam as músicas em contexto. Uma experiência visual que prendia o espetador e ao mesmo tempo ajudava tanto na compreensão da música, como no tema em questão. Nesses painéis, abordaram-se temas como o caso crítico dos refugiados, a formatação da cabeça dos jovem com ideias “pre-feitas”, bem como a pobreza em várias partes do mundo.
No final da primeira parte, o artista tocou a Another Brick in the Wall Part2, onde trouxe ao palco crianças encapuzadas e com macacões laranja (como se fossem presos) a simbolizar a opressão e o controlo exercido sobre as crianças nas escolas. Mais tarde, estas acabam por retirar os sacos pretos da cabeça e rasgar o fato laranja ao mesmo tempo que cantam a letra da música. Por baixo do fato conseguia ler-se nas t-shirts “RESIST”. Acaba assim, a  primeira parte e dá-se inicio ao intervalo de 20 min onde passaram frases como “RESIST THROUGH CONTROL”; “RESIST THE IDEIA THAT SOME ANIMALS ARE MORE EQUAL THEN OTHERS”; “RESIST NEO-FACISM” (img.II); “RESIST PROPAGANDA” ou até “YES , YOU, GINA HASPEL, YOU SHOULD BE IN PRISION, NOT HEAD OF C.I.A.” (img.III). Foi com estas frases que Roger Waters de uma maneira bastante subtil mas eficaz, instaurou nos espetadores um sentimento de alerta para a segunda parte.

É na segunda parte que as críticas ao regime político dos Estados Unidos, à questão dos refugiados, ao terrorismo e ao clima de quase “guerra fria” tomam lugar, tal como os efeitos visuais e experiências sensacionais. Começa com painéis de pano a descerem do centro da arena e a formarem uma fábrica (Img.IV) (capa do álbum Animals) ao som da música Dogs. Nestes painéis, são projetadas imagens, frases, animações sobre os assuntos para que devemos 'abrir os olhos'. Na sua maioria eram efeitos visuais anti-Trump (Img.V). Roger chama “pig” ao presidente dos Estados Unidos, em seguida ergue um cartaz que diz “Pigs rule the world!”,”Fuck the pigs!” (Img.VI e VII). Durante a música Pigs consegue-se observar um porco gigante insuflável que tinha escrito “STAY HUMAN”.  Mais adiante o musico aborda assuntos como os inocentes que sentem a guerra na pele, os protestantes que lutam pelos seus direitos, o mundo regido pelo dinheiro e a propaganda. 
Img.VIII - Fotgrafia do Prisma Triangular 
Quase no final da segunda parte, Roger projeta, por meio de um espetáculo de lasers, o famoso prisma triangular (Img.VIII) a fazer a refração da luz. Seguidamente, o artista agradece aos músicos que o acompanham e expressa uma mensagem: afirma que o mundo precisa de ser governado pelo Amor, não pela ganância do dinheiro e do poder. Ele refere que, no clima de tensão nuclear/de guerra fria em que nós vivemos, temos a obrigação de espalhar bondade, tolerância e  compaixão uns pelos outros, independentemente da nacionalidade, da raça ou que fazem e que devemos lutar contra esta opressão. “(…) We do not want to live in a state of perpetual war, well I don't, and I know you don't. So why are they approaching this upon us? We know the answer, money.
If they do destroy this beautiful, fragile planet, and denied our children and our grandchildren and all our descendence the enormous pleasure of waking up in the morning and smelling the flowers and taking a breath of fresh keen air, they may well do it with nuclear weapons, which we still have, all over the world, why? I don't know, but we should keep asking our governments again and again 'why are we forced to live on the nuclear bring? what is it for?'...it makes no sense to me...
We must never forget that ‘reason’ and ‘liberty’ are good things and we should fight for.“ 

Os mais intolerantes dirão que se trata de fanatismo, mas acredito realmente que a mensagem satírica que Roger transmitiu deve ser levada a um nível profundo, deve ser interiorizada e refletida, mesmo para aqueles que não apreciam a sua música. Foi mais do que “só música”, foi mais do que um bom concerto, foi mais do que um espetáculo, foi um alertar de consciências para que cada um de nós desempenhe um papel construtivo na preservação dos valores dos direitos humanos. A mensagem deste espetáculo insere-se no percurso musical filosófico e de intervenção critica que foi a matriz dos Pink Floyd.


Img.II - "Resist Neo-Facism", 
fotografia tirada por mim
Img.III - fotografia tirada por mim
















Img.IV - fotografia da fábrica em 3D

Img.V - Trump Charade 











Img.VII
Img.VI












Para os curiosos fica aqui:
o link para os concertos no youtube: dia 20 de Maio ; dia 21 de Maio 
o link para a banda PinkFloyd: https://open.spotify.com/artist/0k17h0D3J5VfsdmQ1iZtE9
e o link para o cartoonista oficial dos PinkFloyd: http://www.geraldscarfe.com/