A arte como disciplina de estudo
tem uma definição muito inconstante, dependendo de quem, onde e quando está a
ser definida. No entanto, seguindo a ideia geral, a Arte pode ser compreendida
como uma atividade humana relacionada com demonstrações estéticas ou
comunicativas. Tem diversas maneiras de se expressar, nomeadamente, o desenho,
a escultura, a pintura, a escrita, a música, a arquitetura a dança, o teatro e
o cinema. Cada arte tem o seu utensilio de expressão assim como a sua certa
ciência por de trás, no entanto todas tinham algo em comum, a sua aura. Até
tempos recentes, a arte tinha, segundo uma aura que se definia como uma “figura singular, composta de elementos
espaciais e corporais.” Seguindo o ensaio “ A obra de arte na era da sua reprodutibilidade Técnica ” de Walter
Benjamin, estava relacionada com três principais termos: a Unicidade, a
Autenticidade, a Originalidade e a tradição de uma obra, o por ele chamado “Aqui
e Agora” – a essência; a presença física e local de origem. A unicidade defende
a existência única de uma determinada peça, sem haver qualquer reprodução da
mesma. Estes aspetos transformam-se em características da arte dependendo do
seu contexto social e cultural principalmente.
Este termo está muito relacionado
à ideia religiosa de “Aura”. A Obra
tem um caracter de objeto a ser cultuado, admirado.
A aura era a principal definidora
do que é realmente uma obra de arte. Única, sem outra igual. No entanto isto
mudou com a invenção da Fotografia no século XIX, que aproximou comunidades de
todo o mundo através da captação de imagens nunca antes vistas por uma
determinada sociedade num determinado espaço. Com o aumento de imagens a serem partilhadas
em revistas, deu-se o aumento do consumismo por parte das sociedades mais
evoluídas, alimentando o capitalismo presente nas mesmas. Com esta nova manifestação
artística, a aura, também chamado de valor culto, foi substituída pelo valor de
exposição.
“Mas o valor culto não se entrega sem oferecer resistência. Sua última
trincheira é o rosto humano.” (BENJAMIN WALTER, 1936, Página 174 d’ “ A obra de arte na era da sua
reprodutibilidade Técnica”)
Figura
1: Exemplo Fotográfico -;Ruas de Paris; 1900.
Autor:
Atget
Graças à Fotografia originou-se o
cinema, que roubou completamente a popularidade das outras artes, como a
pintura. Assim, o valor de exposição alcança o seu apogeu. Benjamin compara a sétima
arte ao Teatro, defendendo que o cinema havia perdido a aura. Isto deve-se ao
uso da camara de filmagem, que não era necessária no teatro, que conectava o
ator diretamente com o espetador. O corpo humano nesta arte preformativa é utilizado
como um objeto, um acessório usado pela máquina que grava a sequência rápida de
fotografias. O teatro é natural e independente.
O cinema deu ao espetador uma
nova forma de ver o mundo. Os espetadores do cinema deixarem de ser um “espetador
calmo”, e passaram a tomar ações, libertando a arte do fascismo das massas.
Apesar de terem sido estas ultimas que impulsionaram o desenvolvimento da
reprodução em serie.
Apesar desta valorização das
artes pré-fotografia, a perda de Aura não é necessariamente um aspeto negativo
da evolução da tecnológica. O Valor Culto não passa de uma intrusão por parte
de movimentos como a Religião, que controlou grande parte da arte que até hoje
sobreviveu ao passar dos anos. Como é exemplo o “Juízo Final” de Michelangelo, que incide no tema de temor a Deus. Este
fresco do ano de 1541 ainda hoje se encontra na Capela Sistina, cobrindo a
parede do altar. Diz-se que graças à encomenda do próprio Papa Clemente VII,
finalizada já com o Papa Paulo III, esta pintura provocou um grave medo de
Deus, devido às representações de diversos castigos e possibilidades que cada
crente poderia sofrer, como é exemplo o autorretrato do pintor na pele esfolada
na mão de São Bartolomeu.
“ (…) Sobre a nuvem imediatamente abaixo de Cristo vemos o apóstolo São
Bartolomeu, que segura uma pele humana esfolada, alusiva ao seu martírio.
Todavia, o rosto dessa pele não é o do santo, mas sim o de Miguel Ângelo.”
Livro: “A Nova História de Arte
de Janson: A tradição ocidental”, p 614, l.18-23
Para além de ser uma forte influência
da própria crença, já que São Bartolomeu foi esfolado vivo, simboliza o medo do
artista em relação ao seu futuro como crente.
“ (…) o artista considerou-se indigno da ressurreição em carne e osso, um
tema recorrente na imagem.”
Livro: “A Nova História de Arte
de Janson: A tradição ocidental”, p 614, l.25 e 26
Gerou muita controvérsia que
levou a discussões vividas entre os críticos da contra-Reforma Católica e os
apreciadores de Michelangelo e do seu maneirismo.
Figura 2 – “Juízo Final”; Capela Sistina; Roma
Ano: 1541
Autor: Michelangelo
Descrição: Representação
Bíblica (Mateus 24:29-31)
Figura
3 – Detalhe do “Juízo Final”; Capela
Sistina; Roma
Ano:
1541
Autor:
Michelangelo
Descrição:
São Bartolomeu, com a faca do seu esfolamento na mão esquerda e a pele solta do
próprio Michelangelo na mão direita.
O controlo do que era retratado
nas artes deveu-se à necessidade de poder por parte das sociedades de maior
influência, como é exemplo um Papa ou um Rei. Como é o caso do Papa Paulo III
que pediu a Miguel Ângelo que pintasse a parede do altar, na qual estavam as
encomendas do Papa Sisto IV, e obras anteriores da autoria do próprio pintor.
Foi graças à fotografia e ao
cinema que a arte ganhou a autonomia que nunca teve, aparecendo novas obras nunca
antes imaginadas. Apesar de ter uma consequência positiva, a evolução
tecnológica também desencadeou uma extrema mercantilização dos produtos, que
foi alimentando o capitalismo até aos dias de hoje. Qualquer foto, vídeo ou
texto pode ser partilhado com o mundo inteiro – A ideia de Globalização. A
unificação das diversas sociedades pelo mundo espalhadas. Esta disponibilidade
de partilha leva a uma maior competição independentemente da área que se
frequenta, aumentando também a necessidade de originalidade, algo que a Aura
defendia.
Perdeu-se a Aura pela
independência, mas continuamos a precisar de algo que nos torne únicos. É
importante frisar que a essência de ser original é algo muito importante na
arte, e esta estátua abaixo exemplificada não o tem. Vai ser o facto de ser a
primeira, a original, que torna a arte, arte.
Figura
4 – Réplica de “Laocoonte”
Local:
Corredor do piso Principal; Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa;
Descrição:
A replicação da obra “Laocoonte” deve-se possivelmente à necessidade de
disponibilizá-la para os alunos de artes. Mas obviamente que se deveu também à crescente
mercantilização da arte.



