domingo, 27 de maio de 2018

Julgadas por julgados


            Há umas semanas, estava eu, na rua junto à faculdade, a ajudar uma colega a fazer um vídeo. Ela de telemóvel na mão pronta para me filmar e eu pronta para realizar o simples ato que ela me tinha pedido para fazer: andar. À medida que nos preparávamos, passou um grupo de homens trabalhadores em que um deles decidiu dar a sua opinião respondendo à pergunta que eu tinha feito à minha colega: “queres que tire o casaco?” – tinha o casaco preso à mala – e o homem respondeu algo do género “sim, sem casaco ficas mais bonita”. Um minuto depois, passou um grupo de jovens estudantes e um deles fez o favor, a si próprio, de se atravessar à frente da câmara em busca de aplausos por parte dos seus amigos. Nos dois minutos que estivemos ali, naquela rua de Lisboa em pleno dia, fomos abordadas duas vezes sem qualquer tipo de intenção da nossa parte. A meu ver, o problema deste acontecimento foi o facto de nos terem julgado sem saberem o que realmente estávamos lá a fazer, ou seja, estes homens que têm, provavelmente valores errados, viram duas raparigas, uma com a “caixa preta” na mão e a outra à frente à espera de “ganhar significado” e possivelmente pensaram “estão a tirar fotografias para publicar nas redes sociais” e assim avaliaram o nosso comportamento, que ficou visto como fútil e desnecessário. E eu julguei o deles, como estúpido e desagradável. Talvez até tenha sido simplesmente uma brincadeira, embora o jovem parecera agir com maldade, mas nós não pedimos opinião nenhuma e muito menos quisemos que brincassem connosco ou com o nosso trabalho.
         Portanto, alguns homens desvalorizam as mulheres que estão sempre a tirar ‘selfies’, a publicar fotos do corpo, mas ao mesmo tempo não deixam de ver essas fotos nem de apreciar o corpo destas. Os homens que mais perdem tempo a ver fotos de raparigas, a pôr ‘likes’ e a mandar aos amigos se calhar são os que mais as julgam.
          O vídeo que estávamos a produzir tinha outro conceito do que aquele de expor o meu corpo, e mesmo assim esses homens pensaram que era isso que queríamos transmitir, porque se calhar é isso que estão habituados a ver. E é assim que nos apercebemos de como as mulheres são vistas, às vezes por culpa ‘deles’, outras vezes por culpa delas. Será que todas as mulheres têm a preocupação de ser agradável aos olhos dos outros? Acredito que todas as mulheres sejam examinadas, por elas mesmo, por outras mulheres e por homens, todos com propósitos diferentes, ou não; uns observam a roupa, outros a cara, outros o corpo, outros leem os lábios e absorvem a mente.
Somos altruístas egoístas, pois damos muita importância aos comentários e opiniões dos outros só para podermos formar a nossa imagem consoante a imagem que os outros têm de nós. Pareço valorizar bastante as ideias de outros para talvez perceber o que pensam de mim. Queremos agradar toda a gente (o que é impossível), não queremos agradar ninguém, ou queremos agradar o grupo de pessoas em que estamos inseridos?