domingo, 27 de maio de 2018

Acampamento NEDNTA


Acampamento NEDNTA
Curso de CAP, 1º ano
FBAUL, 2017/2018
     O texto seguinte é um resume de parte da experiência que vivi no evento de actividades desportivas organizado pelo Núcleo de Estudantes de Desporto de Natureza e Turismo Ativo, da Escola Superior de Desporto de Rio Maior. A descrição enfatiza o quanto o ambiente natural, longe dos caprichos da modernidade, me influenciou. Durante aqueles dias, não tendo o som citadino a ofuscar os meus pensamentos, consegui pensar com mais clareza e individualidade. Não existia qualquer pressão social: vestimos-nos por conforto sem qualquer sentido de moda, fizemos jogos e dançámos com vergonhas à parte. O bem-estar e cumplicidade entre (inicialmente) desconhecidos fez parecer que Eva nunca antes tinha trincado a maçã.

     “Abri a tenda. Não ouvi nada senão o som do riacho do Rio Zêzere e o restolhar de folhas no chão. O dia estava de gelar o corpo até aos ossos, mas nada que três camadas de camisolas e duas de calças não resolvessem. Muitos ainda dormiam, pelo que me fui sentar no muro com vista para o rio e pensei. Ao longe avistei o francês que vinha já fiel à sua corrida matinal, por respeito ao próprio corpo, como ele me dissera na noite anterior. O sol começou finalmente a aquecer um pouco, tirei os sapatos, tirei as meias, arregacei as calças e molhei os pés no rio. Que bem que soube! E que belos peixes que lá passavam! Não fazia a mínima ideia de que peixes seriam, no supermercado costumam estar encarcerados e identificados, já com o preço marcado. Mais algumas pessoas começaram a sair das tendas, e como eu aproximaram-se do cubículo (que durante o verão serve de apoio à praia fluvial como bar). Fiz a minha sandes com manteiga, procurei o copo de plástico com o meu nome que enchi com leite a ferver para dissolver o café. Os meus colegas conversavam animados, não prestei atenção ao que diziam. Estava entregue aos meus pensamentos.
     Caminhámos por montes, junto a quedas de água, por trilhos que não estavam pré-determinados. Nunca ali tinha estado uma sociedade iluminista.  
     - E chegámos à última paragem antes de regressarmos ao acampamento. Vimos os quatro santos que abençoam as terras mais próximas, e agora o penedo furado! Vamos distribuir umas maçãs, desfrutem da pausa malta. - E desfrutei.
     Precisava mesmo de um banho para tirar toda a sujidade do corpo transpirado. Estava mesmo feliz, sentia-o bem no centro do peito. Só tinha água fria, custou um pouco, mas não me importei. Era já segunda noite e depois de muito dançar (bem ou mal, não importou), jogámos alguns jogos. Apesar de ter passado o dia a dar espaço à minha voz interior acabei a noite a conversar. O corpo arrefeceu. Os meus colegas queixaram-se que não conseguiram dormir com pedras nas costas. Fui um caso raro, só acordei à hora das actividades do dia seguinte. O dia estava chuvoso e muito mais frio que o anterior. Entre conversas, jogos de bola e de equilíbrio, o dia passou e senti-me com uma imensa noção do meu corpo e dos meus pensamentos. A água fria já me custou, dei por mim a desejar a minha água quente e umas pantufas nos pés. Apesar de tudo, acabava sempre por me decidir que estar ali compensava, a tranquilidade era mais forte. Foram 3 dias, só usei o telemóvel para meter despertador, esse pormenor fez-me sentir ainda mais livre do que já me sentia. Cheguei a casa, tomei um belo banho quente e calcei as pantufas, mas foi só isso.”

     No curto espaço de tempo que estive a experimentar um acampamento selvagem não fui privada de requintes como ter uma casa-de-banho e comida nas horas das refeições, mas senti que a minha individualidade foi exaltada, bem como a das pessoas que lá estavam. Não dominámos tanto a nossa Natureza pessoal, contagiados pela Natureza pouco dominada à nossa volta. Conforme nos afastámos do acampamento onde havia mais vestígios de civilização, trilhámos por caminhos próprios ignorando os existentes. Encontrámos pouca mão humana e a que encontrámos estava lá, não para se sobrepor à natureza, mas em simbiose com esta (ou mesmo em modo de agradecimento como as 4 estátuas de pedra erguidas pela população de pequenas aldeias). É realmente mais fácil ser singular se nos conseguirmos escutar, algo que o estilo de vida que se leva nas sociedades ditas desenvolvidas não permite.