Acampamento NEDNTA
Curso de CAP, 1º ano
FBAUL,
2017/2018
O texto seguinte é um resume de parte da
experiência que vivi no evento de actividades desportivas organizado pelo Núcleo
de Estudantes de Desporto de Natureza e Turismo Ativo, da Escola Superior de
Desporto de Rio Maior. A descrição enfatiza o quanto o ambiente natural, longe
dos caprichos da modernidade, me influenciou. Durante aqueles dias, não tendo o
som citadino a ofuscar os meus pensamentos, consegui pensar com mais clareza e
individualidade. Não existia qualquer pressão social: vestimos-nos por conforto sem
qualquer sentido de moda, fizemos jogos e dançámos com vergonhas à parte. O bem-estar
e cumplicidade entre (inicialmente) desconhecidos fez parecer que Eva nunca antes tinha trincado a maçã.
“Abri a tenda. Não
ouvi nada senão o som do riacho do Rio Zêzere e o restolhar de folhas no chão.
O dia estava de gelar o corpo até aos ossos, mas nada que três camadas de
camisolas e duas de calças não resolvessem. Muitos ainda dormiam, pelo que me
fui sentar no muro com vista para o rio e pensei. Ao longe avistei o francês
que vinha já fiel à sua corrida matinal, por respeito ao próprio corpo, como ele
me dissera na noite anterior. O sol começou finalmente a aquecer um pouco, tirei
os sapatos, tirei as meias, arregacei as calças e molhei os pés no rio. Que bem
que soube! E que belos peixes que lá passavam! Não fazia a mínima ideia de que
peixes seriam, no supermercado costumam estar encarcerados e identificados, já
com o preço marcado. Mais algumas pessoas começaram a sair das tendas, e como
eu aproximaram-se do cubículo (que durante o verão serve de apoio à praia
fluvial como bar). Fiz a minha sandes com manteiga, procurei o copo de plástico
com o meu nome que enchi com leite a ferver para dissolver o café. Os meus
colegas conversavam animados, não prestei atenção ao que diziam. Estava
entregue aos meus pensamentos.
Caminhámos por
montes, junto a quedas de água, por trilhos que não estavam pré-determinados. Nunca ali tinha estado
uma sociedade iluminista.
- E chegámos à última paragem antes de
regressarmos ao acampamento. Vimos os quatro santos que abençoam as terras mais
próximas, e agora o penedo furado! Vamos distribuir umas maçãs, desfrutem da
pausa malta. - E desfrutei.
Precisava mesmo de
um banho para tirar toda a sujidade do corpo transpirado. Estava mesmo feliz,
sentia-o bem no centro do peito. Só tinha água fria, custou um pouco, mas não
me importei. Era já segunda noite e depois de muito dançar (bem ou mal, não
importou), jogámos alguns jogos. Apesar de ter passado o dia a dar espaço à
minha voz interior acabei a noite a conversar. O corpo arrefeceu. Os meus
colegas queixaram-se que não conseguiram dormir com pedras nas costas. Fui um
caso raro, só acordei à hora das actividades do dia seguinte. O dia estava
chuvoso e muito mais frio que o anterior. Entre conversas, jogos de bola e de
equilíbrio, o dia passou e senti-me com uma imensa noção do meu corpo e dos
meus pensamentos. A água fria já me custou, dei por mim a desejar a minha água
quente e umas pantufas nos pés. Apesar de tudo, acabava sempre por me decidir
que estar ali compensava, a tranquilidade era mais forte. Foram 3 dias, só usei
o telemóvel para meter despertador, esse pormenor fez-me sentir ainda mais livre do que já me sentia. Cheguei a casa, tomei um belo banho quente e calcei
as pantufas, mas foi só isso.”
No curto espaço de tempo que
estive a experimentar um acampamento selvagem não fui privada de requintes como
ter uma casa-de-banho e comida nas horas das refeições, mas senti que a minha
individualidade foi exaltada, bem como a das pessoas que lá estavam. Não dominámos tanto a nossa Natureza pessoal,
contagiados pela Natureza pouco dominada à nossa volta. Conforme nos afastámos
do acampamento onde havia mais vestígios de civilização, trilhámos por caminhos
próprios ignorando os existentes. Encontrámos pouca mão humana e a que
encontrámos estava lá, não para se sobrepor à natureza, mas em simbiose com esta
(ou mesmo em modo de agradecimento como as 4 estátuas de pedra erguidas pela população de pequenas aldeias). É realmente mais fácil ser
singular se nos conseguirmos escutar, algo que o estilo de vida que se leva nas
sociedades ditas desenvolvidas não permite.