O Breast Ironing é uma prática utilizada nos Camarões, Africa que envolve bater ou esmagar os seios das raparigas pré-adolescentes para suprimir ou reverter o seu crescimento.
Este ritual ainda é praticado na crença de que poderá atrasar a maturidade e ajudar a evitar assédio sexual ou violações. Breast Ironing é normalmente feito com o consentimento da mãe ou de um(a) familiar mais velho(a).
As técnicas diferem de região para região; algumas pessoas atam os seios com um cinto, outras aquecem uma pedra, uma espátula ou um pilão e usam-nos para pressionar ou massajar os seios.
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7 de Novembro, 2016
Veronica (28anos) massaja os seios da sua filha
Michelle (10anos) enquanto
as outras crianças as observam.
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Embora seja, em grande parte, uma prática dos Camarões, breast ironing ocorre também em outros países da Africa Ocidental e Central. As Organizações não Governamentais estimam que cerca de 25%das mulheres nos Camarões sofreram de alguma forma de supressão de seios; em algumas áreas este número aumenta para mais de 50%.
As mães explicam que o procedimento doloroso é um ato de amor, para garantir que as suas filhas não engravidam e que por isso não deixam de frequentar a escola ou o seu trabalho. Há pouca pesquisa médica sobre as consequências psicológicas e físicas do Breast Ironing, mas de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas, a prática expõe as meninas a inúmeros problemas de saúde decorrentes de danos na pele e infeções.
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Suzanne (11 anos)
Foi sujeita a breast ironing até os seus
seios ficarem completamente espalmados.
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Heba Khamis é uma contadora de histórias egípcia, cujo trabalho se concentra em questões sociais, que são frequentemente ignoradas e "Banned Beauty" é uma pesquisa visual de longo prazo que continua a ser trabalhada por Khamis até aos dias de hoje. Começou este projeto no final do ano de 2016.
No casamento precoce de Camarões, a gravidez e a violação são experiências comuns para muitas meninas e mulheres, com isto, elas atingem a puberdade muito antes da idade em que normalmente se casam e uma em cada cinco é uma mãe adolescente.
Há então uma contradição entre a dor física causada pela prática de breast ironing e o amor que motiva as mães e avós a continuarem a prática. Para as mães este ato é uma maneira de demonstrar o seu amor protegendo-as. Doer para proteger é uma maneira de demonstrar amor. A complexidade dessa contradição é a peça central para o projeto desta fotografa.
Em relação com O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir as mulheres mesmo encontrando-se no limite de destruir o mito do "eterno feminino" encontram dificuldades e angústias para conseguirem afirmar a sua independência perante o homem, porque o seu destino "normal" seria o casamento que as transforma em objeto da supremacia masculina.
"Os dois sexos são vítimas ao mesmo tempo do outro e de si."
Ou seja, este grande "duelo" continuará até o homem e a mulher se reconhecerem como semelhantes, não iguais, mas semelhantes. Semelhantes em diretos, oportunidades e valores.
Com isto refletimos e percebemos que a "afirmação feminina" que parece estar tão evoluída em certos locais, ou pelo menos, mais evoluída do que em tempos passados, está ainda tão indiferente em outros.
Admiro o trabalho de Heba Khamis que por um lado nos choca pela forma clara e direta desta dor que ultrapassa a imagem e por outro nos questiona nas formas que mulheres intencionalmente oferecem dor a mulheres por temerem uma outra dor incerta
Admiro o trabalho de Heba Khamis que por um lado nos choca pela forma clara e direta desta dor que ultrapassa a imagem e por outro nos questiona nas formas que mulheres intencionalmente oferecem dor a mulheres por temerem uma outra dor incerta



