quinta-feira, 24 de maio de 2018

Banned Beauty

   O Breast Ironing é uma prática utilizada nos Camarões, Africa que envolve bater ou esmagar os seios das raparigas pré-adolescentes para suprimir ou reverter o seu crescimento. 
Este ritual ainda é praticado na crença de que poderá atrasar a maturidade e ajudar a evitar assédio sexual ou violações. Breast Ironing é normalmente feito com o consentimento da mãe ou de um(a) familiar mais velho(a). 
As técnicas diferem de região para região; algumas pessoas atam os seios com um cinto, outras aquecem uma pedra, uma espátula ou um pilão e usam-nos para pressionar ou massajar os seios. 
7 de Novembro, 2016

Veronica (28anos) massaja os seios da sua filha

 Michelle (10anos) enquanto 

as outras crianças as observam.
   Embora seja, em grande parte, uma prática dos Camarões, breast ironing ocorre também em outros países da Africa Ocidental e Central. As Organizações não Governamentais estimam que cerca de 25%das mulheres nos Camarões sofreram de alguma forma de supressão de seios; em algumas áreas este número aumenta para mais de 50%. 
As mães explicam que o procedimento doloroso é um ato de amor, para garantir que as suas filhas não engravidam e que por isso não deixam de frequentar a escola ou o seu trabalho. Há pouca pesquisa médica sobre as consequências psicológicas e físicas do Breast Ironing, mas de acordo com o Fundo de População das Nações Unidas, a prática expõe as meninas a inúmeros problemas de saúde decorrentes de danos na pele e infeções.
Suzanne (11 anos)

Foi sujeita a breast ironing até os seus 
seios ficarem completamente espalmados.
   Heba Khamis é uma contadora de histórias egípcia, cujo trabalho se concentra em questões sociais, que são frequentemente ignoradas e "Banned Beauty" é uma pesquisa visual de longo prazo que continua a ser trabalhada por Khamis até aos dias de hoje. Começou este projeto no final do ano de 2016.

   No casamento precoce de Camarões, a gravidez e a violação são experiências comuns para muitas meninas e mulheres, com isto, elas atingem a puberdade muito antes da idade em que normalmente se casam e uma em cada cinco é uma mãe adolescente.
   Há então uma contradição entre a dor física causada pela prática de breast ironing e o amor que motiva as mães e avós a continuarem a prática. Para as mães este ato é uma maneira de demonstrar o seu amor protegendo-as. Doer para proteger é uma maneira de demonstrar amor. A complexidade dessa contradição é a peça central para o projeto desta fotografa. 

   Kamini Tontines (12 anos)


 Esconde os seus seios depois de sofrer
Breast Ironing por parte da mãe.


 Em relação com O Segundo Sexo, de Simone de Beauvoir as mulheres mesmo encontrando-se no limite de destruir o mito do "eterno feminino" encontram dificuldades e angústias para conseguirem afirmar a sua independência perante o homem, porque o seu destino "normal" seria o casamento que as transforma em objeto da supremacia masculina.

"Os dois sexos são vítimas ao mesmo tempo do outro e de si." 

Ou seja, este grande "duelo" continuará até o homem e a mulher se reconhecerem como semelhantes, não iguais, mas semelhantes. Semelhantes em diretos, oportunidades e valores.
   Com isto refletimos e percebemos que a "afirmação feminina" que parece estar tão evoluída em certos locais, ou pelo menos, mais evoluída do que em tempos passados, está ainda tão indiferente em outros.



Admiro o trabalho de Heba Khamis que por um lado nos choca pela forma clara e direta desta dor que ultrapassa a imagem e por outro nos questiona nas formas que mulheres intencionalmente oferecem dor a mulheres por temerem uma outra dor incerta

Suzanne (11 anos)

 Cecile (mãe de Suzanne) realizou breast Ironing na
 Suzanne duas vezes depois de cozinhar utilizando
 uma pedra quente até que os seios da menina deixarem de existir.