domingo, 27 de maio de 2018

Reflexão Sobre a Singularidade

Ao estudar A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica de Walter Benjamin tornou-se impossível, para mim, não refletir sobre um trabalho que desenvolvi com um amigo no passado ano letivo.

A instalação em vídeo por nós criada tinha como objetivo co-relacionar a obra de Basquiat e Mondrian nas artes plásticas e Jimi Hendrix e BB King com a mesma essência nas artes musicais.

Apesar de não nos termos apropriado de nenhuma obra destes artistas (à excepção de uma música de BB King), tentámos recriar a sua estética.

É impossível para mim não pôr em causa o valor de singularidade da animação digital no fundo da instalação por exemplo. A sua estética inspirada de forma tão óbvia em Mondrian faz com que esta pudesse passar até por uma obra do mesmo.

Até que ponto consideramos que as esculturas inspiradas em Basquiat foram produzidas apenas com o impulso de criar arte.

Saltando isto, até que ponto consideramos que a música de BB King e as linhas de guitarra por mim criadas e tocadas inspiradas em Jimi Hendrix têm o fator do aqui e agora? O fator do aqui e agora na música é apenas possível presenciar numa prestação ao vivo ou consideramos a faixa de um albúm a verdadeira obra?!

Por último, a instalação que para nós tanto sentido fez, esteve montada apenas uma hora numa sala a que só nós dois tivemos acesso. O vídeo final que temos não corresponde à instalação. Nas imagens não se sente o vento que vem das janelas propositadamente abertas, não se sente o cheiro das tintas e madeiras nas esculturas.

Estaria a mentir se dissesse a alguém que posso mostrar essa instalação que fizemos. Na verdade posso apenas mostrar um vídeo da mesma. Ver esta instalação já é impossível. Eu e o meu amigo fomos os únicos a ver aquela instalação. Os únicos que presenciaram a sua singularidade (que talvez seja composta por elementos que falham a singularidade); mas fomos os únicos que a presenciaram ali e naquele momento.