quinta-feira, 24 de maio de 2018

Modas Digitais Fugazes

Como a grande maioria da minha geração, navego na Internet desde que me lembro. Tenho vindo a assistir ao seu grande "boom", que parece interminável. O seu número de utilizadores [da internet] tem vindo a aumentar, sem nunca diminuir ou estabilizar, sendo que o único limite será, eventualmente, a a utilização da mesma por parte de todos os humanos existentes no planeta Terra.

A imensidão de informação que navega o mundo instantaneamente faz com que o decurso de tempo na web seja consideravelmente mais rápido: tudo se passa a uma velocidade substancialmente superior à do mundo real. Nesse sentido, qualquer internauta minimamente experiente pode sentir-se como um pequeno "Deus", que observa a evolução de um universo que parece já existir há séculos ou milénios.

Esta reflexão surgiu a propósito do "tradicional" vídeo do youtube que coloca em retrospetiva o ano que passou, onde são compiladas as maiores tendências que se estenderam por todas as redes sociais. Trata-se de um vídeo de seis minutos e meio, carregado com pequenos excertos e referências dos aclamados memes (fotos e vídeos geralmente cómicos, com a capacidade de serem reproduzidos com imensas variantes), sendo que a maioria teve uma duração de vida extremamente curta, rondando uma ou duas semanas. Porque razão estas piadas são tão passageiras e nunca permanecem no tempo como as "tradicionais" (por exemplo, piadas do"Joãozinho" ou o "Truz-truz")? Poder-se-ão considerar duas razões: a primeira, a superlotação de informação. As tendências, que chegando demasiado rápido a inúmeras pessoas, criam algo nunca antes visto: o esgotamento total de todas as possíveis variantes da mesma foto ou vídeo, tornando-a rapidamente repetitiva, monótona e obsoleta. A segunda advém da primeira e trata-se da sobreposição. Por exemplo, quando um meme invade a Internet e começa gozar do seu momento de glória no pódio de todos os feed's de Facebook e de cada website cómico, chegando a ser mencionado na televisão nacional em horário nobre. Este fenómeno constitui-se como um sinal de que a sua reposição está para breve: esse “pódio” cedo irá pertencer a outra tendência, não necessariamente melhor, apenas mais recente. 

Se antes um simples vídeo de gatinhos fazia buzz por um ano ou alguns sólidos meses, hoje a gravação da performance desastrosa do artista A ou B apenas permanece por meros dias e cai no esquecimento geral num ápice. Se isto não acontece é-lhe colocada a etiqueta de "velho" e torna-se démodé, sendo quase uma blasfémia ser mencionado. Num mundo substancialmente mais pequeno, mais rápido e mais povoado, com mais notícias globais e mentes a trabalhar nelas, cria-se justamente o desejo de estar na vanguarda das trends resultando numa “Super Fábrica de Cultura das Massas”, na qual todos os seus produtos vêm com pouca ou nenhuma validade (ou até mesmo qualidade), desenvolvendo-se muito rápido e morrendo ainda mais depressa.