A arte está ligada a manifestações estéticas que provêm
das percepções, emoções e ideias dos artistas. É extremamente difícil, talvez
até impraticável, estabelecer uma definição de arte. Diferentes teóricos
fizeram esta tentativa ao longo da história, mas se depararam com a dependência
da arte a uma enorme profusão de circunstâncias que a permeiam, sejam elas
históricas, sociais, políticas, geográficas, linguísticas, económicas, etc.
Chega-se à conclusão, portanto, que a definição de arte varia de acordo com a
época e a cultura.
Mesmo que
estas variações sejam foco de diversos teóricos do assunto até os dias de hoje,
também as características da produção artística e sua veiculação nos diferentes
contextos históricos e culturais são preocupações de alguns destes
estudiosos. Walter Benjamin procura entender
de que modo a produção artística foi afectada pelo advento da reprodutibilidade
técnica das formas simbólicas, principalmente a partir da entrada do processo
industrial em tal produção. Benjamin afirma que, por princípio, ainda que a
reprodutibilidade técnica tenha alterado as condições de produção/reprodução
nos domínios da cultura, a obra de arte sempre foi reprodutível. No entanto, ao
se reconstruir a história da arte, são consideradas duas vertentes: o “valor de
culto” e o “valor de exposição” da obra de arte.
Para o Walter
Benjamin, “a produção artística começa com imagens a serviço da magia. O que
importa, nestas imagens, é que elas existem, e não que sejam vistas.” Ou
seja, em relação ao “valor de culto”, a importância de uma obra de arte dava-se
a partir de sua função ritual, antes mágico e depois religioso e, portanto,
ligada à unicidade das obras de arte. A partir do advento da reprodutibilidade
técnica das formas simbólicas, estas obras acabam por se emancipar de sua
função ritualística e, portanto, de sua existência única, a sua
"aura", e passam a ser exibidas e disponíveis, chegando a atingir uma
enorme escala de exposição.
Benjamin
aponta o advento da fotografia como o início do recuo do valor de culto das
obras de arte. No entanto, é válido ressaltar que, ao mesmo tempo, é na
fotografia que este valor ainda pode encontrar alguma remanescência, já que as
fotografias de rostos humanos podem chegar a afectar aqueles que teriam alguma ligação
com quem está retratado nas tais fotografias, trazendo-lhes uma saudade que
poderia relacionar-se ao valor de culto. O "valor
de culto", então, dá lugar ao "valor de exposição": se antes a
produção artística estava a serviço do ritual, a partir das técnicas de
reprodução serial, a sua expansibilidade faz surgir uma necessidade crescente
por uma maior disponibilidade das obras de arte. Esta mudança de valores chega,
portanto, a acarretar uma verdadeira "refuncionalização" da arte.