Sendo suporte de ideias e conceitos intrínsecos no pensamento íntimo, privado e pessoal, a obra de arte terá sempre um tronco moldado por fatores culturais que não dependem da vontade consciente do criador, já que este também transporta consigo um manto cultural quase impossível de se desfazer (para averiguar esta possibilidade teria de se propor uma isolação do artista durante um período de tempo suficiente para se desprender da cultura e da tradição do meio social).
Toda esta ideia de contextualização cria os cânones da arte, que aos olhos do receptor serão os pontos fixos em qualquer noção de criação artística, porém sendo a arte uma extensão do pensamento consciente e inconsciente, comporta uma liberdade absoluta, inconformista e quase ilimitada (pelo menos tanto quanto a imaginação permitir).
Esta dualidade entre racionalidade e sensibilidade inerente à essência da criação, torna-se quase perigosa na medida em que pode corromper os cânones da arte (por princípios ligados à ideia de ruptura como fator de regeneração) e expandir-se.
Falando num contexto nacional, o problema põe-se na análise da actuação do poder sobre a vertente artística. A perpetuação dos cânones da arte é quase impossível e é previsível anteceder novas formas de criar realidades transcendentes, então o poder age a favor dos cânones para camuflar a possibilidade de contágio que cada nova criação contém.
Um exemplo é o curso cientifico-humanístico de Artes Visuais no ensino secundário, um ensino público porém básico e elementar que se sustenta de noções muito convencionais e pouco experimentais. O problema talvez se ponha na pouca aposta ao campo das artes em Portugal, e no ensino secundário este campo é tratado de uma forma superficial e pouco complexa.
Será que a pouca actuação do poder sobre o domínio das artes em Portugal se deve a este temor pela liberdade que a criação artística propõe? Será que se deve ao medo de alcançar uma realidade que se procura inconscientemente?