A filosofia da caixa preta foi criada por Vilém Flusser.
Esta teoria, consiste no facto de haver determinados sítios onde é fisicamente
impossível estar, mas ainda assim conseguimos ver como se lá estivéssemos. Isto
quer dizer que, tanto na televisão como no cinema, não é impossível estar
“dentro” da máquina de filmar, o que não invalida que as imagens finais a que
nós assistimos sejam observadas desse ponto de vista. Deste modo, conseguimos
ver algo de uma posição onde é fisicamente impossível estar. De outro modo, num
concerto tal não se verifica, pois aquilo a que assistimos não vimos através de
uma camara, uma vez que estamos lá fisicamente.
Neste contexto, decidi referir o exemplo de algo que estava
apenas na caixa preta, mas que também foi possível assistir noutro formato.
Falo da serie televisiva “1986” transmitida na RTP1 e criada por Nuno Markl.
Esta serie retrata o dia-a-dia de cinco jovens enquadro-o na situação
económica, política e social do ano de 1986. Ao longo da serie, as personagens
têm músicas que as caracterizam e espelham os vários acontecimentos. Assim,
realizou-se um concerto com a presença dos atores e músicos da serie onde foi
possível assistir aos seus temas bem como outros da época. Deste modo, a serie
à qual só tínhamos acesso do ponto de vista de espetador de televisão, é-nos
agora mostrada no formato de concerto. Podemos assim assistir fisicamente ao
que víamos na televisão.
Isto mostra como algo “preso” na caixa negra pode “saltar”
para outros formatos.
