sexta-feira, 18 de maio de 2018

A Mulher no Cinema Atual


                O cinema é sem dúvida uma das mais influentes formas de arte. Influência as artes que o precedem e é influenciado por si mesmo, na medida em que um filme – como por exemplo O Homem Que Ri de 1928 dirigido por Paul Leni – inspira outro filme – Batman de 1989 dirigido por Tim Burton, no qual a personagem Joker é claramente inspirado em Gwynplaine do O Homem Que Ri.
                 Laura Mulvey escreve um texto no qual trata questões de gênero e a representação da mulher e do feminismo na 7ª arte, “O Prazer Visual e o Cinema Narrativo” no terceiro capítulo intitulado “A Mulher como imagem, o Homem como dono do olhar”. Mulvey fala da representação da mulher no cinema como “um elemento indispensável para o espetáculo num filme narrativo comum” contrastando com a opinião de Budd Boeltticher que afirma que “o que importa é o que a heroína provoca, ou melhor, o que ela representa. É ela que, ou melhor, é o amor ou medo que ela desperta no herói, ou então a preocupação que ele sente por ela, que o faz agir assim dessa maneira. Em si mesma, a mulher não tem a menor importância.”. Mulvey analisa como a figura da mulher se insere na arte e por consequente na sociedade (sendo que a arte retrata a realidade) e também como o machismo está presente na arte e sociedade atual.
                No filme da Mulher Maravilha de 2017 do universo da DC Comics, dirigido por Patty Jenkins, temos uma produção na qual a protagonista é uma heroína feminista interpretada por Gal Gadot. É um dos primeiros filmes no qual uma mulher é a heroína, é a salvadora do mundo, o que fez com que o filme não só tivesse muita adesão por parte dos fãs da personagem da DC Comics mas também impressionasse as mulheres (que pela 1ª vez se viam representadas no ecrã como numa heroína forte e independente). No final de 2017, a Mulher Maravilha fez uma pequena aparição no grande ecrã, no filme da Liga da Justiça dirigido por Zack Snyder, Jay Oliva e James Wan. Embora não tenha sido a personagem principal, a Mulher Maravilha destacou-se dos seus pares. Este destaque deveu-se ao facto de não só ser um dos elementos mais poderosos e forte do grupo, mas também pela forma como foi retratada. Em Liga da Justiça observamos uma Mulher Maravilha e Diana Prince – quando está vestida de mulher comum e não heroína – muito mais sexualizada. Comparando ambos os filmes, destaca-se a forma como em Liga da Justiça a personagem é sexualizada por exemplo nas vestes que Diana usa, que possuem decotes/ aberturas ou são justas, acentuando o seu corpo. Até mesmo nas sequências de batalha, os ângulos utilizados têm o claro intuito de mostrar o corpo feminino da personagem. Há uma enorme diferença entre ambos os filmes e em grande parte deve-se ao facto de Mulher Maravilha ter sido dirigido por uma mulher (Patty Jenkins) e Liga da Justiça por três homens (Zack Snyder, Jay Oliva e James Wan).
                Existem, no mundo do cinema mais exemplos semelhantes ao de Mulher Maravilha, por exemplo na personagem de Scarlet Witch do universo da Marvel, interpretada por Elizabeth Olsen. No filme Era de Ultron de 2015, dirigido por Joss Whendon, Scarlet Witch é claramente sexualizada, sendo que numa cena de batalha a personagem tem um vestido curto e decotado e um casaco escarlate (que identifica a personagem) e os ângulos da camara evidenciam o corpo da personagem. No ano seguinte a Marvel lançou outro filme Guerra Civil, dirigido por Joe Russo e Anthony Russo, no qual Scarlet Witch aparece, embora já não num vestido curto, mas com um corpete vermelho bastante revelador (no qual a própria atriz comentou dizendo que a heroína precisa um fato menos revelador). No presente ano – 2018 – saiu outro filme do universo da Marvel, Vingadores: Guerra Infinita dirigido novamente por Joe Russo e Anthony Russo. Nesta mais recente produção da Marvel, Scarlet Witch apresenta-se novamente com um corpete vermelho revelador (semelhante ao do filme anterior), e mesmo quando está vestida de mulher comum – Wanda Maximoff – os decotes mais pronunciados mantêm-se. Até mesmo os ângulos continuam, mesmo durante batalhas, a destacar o seu corpo e atributos.
                Ao analisar todos estes filmes podemos constatar que o texto de Laura Mulvey da década de setenta continua atual. A arte difere consoante quem a faz; mesmo representando a mesma personagem, em filmes produzidos por homens, observamos um claro acentuar da heroína como um símbolo sexual e como uma ferramenta de apelo visual, enquanto que num filme realizado por uma mulher a personagem é retratada de forma diferente – é uma heroína, uma guerreira que luta por si e por aquilo em que acredita.