sábado, 26 de maio de 2018

A Arte da Reprodução Artística


No âmbito do Dia Internacional dos Museus, durante os dias 18 a 20 de Maio deste ano, o Serviço Educativo do Museu Berardo decidiu autorizar os visitantes a participar na atividade denominada “EspelhosViajantes”. Esta atividade interativa pretendia que o público pudesse utilizar uma superfície espelhada para criar um registo fotográfico único, com as suas obras prediletas. Estas fotografias seriam posteriormente publicadas nas redes sociais.
Dito isto, é possível estabelecermos uma relação entre esta singular atividade e o pensamento de John Berger. Logo no primeiro episódio de “Ways of Seeing”, Berger reflete sobre como a reprodução de obras de arte por parte da fotografia tirou algo às mesmas. Enquanto os originais mantém o seu valor material e monetário, o valor simbólico é perdido de
vido à sua reprodução em massa. Passando agora a citar o próprio crítico de arte: “The meaning of a painting no longer resides in its unique painted surface, which is only possible to see in one place at one time. Its meaning, or a large parto f it, has become transmittable. It comes to you, this meaning, like the news of na event. It has become information of a sort.”
“Ways of Seeing”, porém, é um programa dedicado à pintura europeia das Idades Média e Moderna. Por outro lado, o Museu Berardo é um espaço dedicado à Arte Moderna e à Arte Contemporânea. Nos dias de hoje, o valor de uma obra de arte não é definida pela sua realização técnica ou capacidade de reproduzir a realidade vista pelos olhos do artista. Arte é agora a capacidade de inovar e de explorar, sendo a pintura e a escultura muitas vezes intrincada com a fotografia ou a performance, por exemplo.
Com efeito, “Espelhos Viajantes” pode ser considerada uma performance que tira partido deste conceito da reprodução da pintura comentado por John Berger. Permitindo que os visitantes reproduzam as obras expostas nas diversas coleções do Museu Berardo de uma maneira, muitos o dirão, mais artística, estas fotografias representam, de certa forma, uma performance, uma diferente forma de arte.
Em suma, talvez a reprodução em massa da pintura não seja algo completamente negativo, como sugere John Berger. Sim, diminuiu, talvez, o valor simbólico da arte, mas criou também um novo, em que a arte tradicional que remonta à própria Antiguidade Clássica possibilita a criação de algo diferente, relevante, naquilo que chamamos de Arte Contemporânea nos dias de hoje.