A partir da infância que as mulheres são “ensinadas” a ser
exigentes e cuidadosas com a sua aparência, pois a maneira como as pessoas a
veem, em especial os homens é extremamente importante, e muitas vezes
considerado o sucesso da sua vida. Elas tornam-se assim inseguras e extremamente
auto depreciativas, pensando em todas as coisas que fazem e como os outros as
veem enquanto as fazem.
Desde há muito que a mulher é associada ao prazer de olhar, e
é possível que essa ideia tenha sido reforçada pela arte europeia da
antiguidade. Nessa, a mulher sempre foi vista como uma paisagem para ser
observada. Havia retratos tanto de homens como de mulheres, mas numa certa categoria
as mulheres eram sempre as representadas, sendo esta o nu.
Kenneth Clark diz que estar nu é simplesmente estar despido,
sem roupa, que é simplesmente uma forma de arte.
Mas John Berger considera que ao estar despidos estamos a
ser nós próprios, e que ao estarmos nus, somos vistos despidos, mas não somos
reconhecidos por nos próprios. O nu implica que estamos a ser vistos por
outros, em que, não estamos despidos como somos, mas estamos despidos como nos
veem, daí o nu ter de ser visto como um objeto.
Muitas pinturas europeias demonstram essa ideia do prazer em
olhar o nu representando mulheres nuas que estão sempre com uma posição
relaxada e que, mesmo havendo personagens masculinas a interagir com elas, o
seu olhar está sempre direcionado ao observador, dando-lhes assim um carácter
submissivo e ao observador um mais dominante.
Uma obra que, na minha opinião, demonstra bem esse carácter é
“vénus de Urbino” de Ticiano, pois além das outras personagens da obra, a nossa
atenção é imediatamente focada na personagem nua da mulher, que está deitada e a
olhar para o observador com um olhar sugestivo e sedutor, transmitindo assim prazer
ao observador.