quarta-feira, 23 de maio de 2018

Qualquer um pode ter uma obra de arte


   Hoje em dia estamos rodeados de obras de arte. As obras que antes só podiam ser vistas e conhecidas nos sítios onde estavam a ser expostas, agora podem-se conhecer até a partir da nossa própria casa. A internet, ou a televisão por exemplo, permitiram-nos conhecer e aprender sobre um vasto número (se não todas) de obras de arte, ao ponto que qualquer pessoa as possa reconhecer. É claro que, tudo o que conhecemos são apenas réplicas, e não a obra original. Mas com toda a informação que existe hoje em dia que é facilmente adquirida, será que já não é preciso estar perante a verdadeira obra para a conhecer realmente?

   O conhecimento sobre as obras de arte expandiu-se, e hoje em dia está muito mais entranhado na nossa cultura do que nós possamos pensar. A internet, a televisão, os cartazes na rua ou até as lojas estão cheias de obras de arte. Ou melhor dizendo, réplicas. Faz parte da nossa cultura conhecermos estas obras de arte, mas ao mesmo tempo, não as conhecemos verdadeiramente. As condições que estão presentes à volta da obra original, a sua história e tudo o que a obra sofreu durante os anos afeta a forma de como a vemos e sentimos, e cria a sua aura.

   Quando visitamos uma loja de lembranças, ou as lojas dos museus, por exemplo, podemos comprar réplicas ou miniaturas de obras que estejam naquele museu, ou que façam parte da cultura do sítio que visitamos. Qualquer pessoa pode comprar uma Torre Eiffel, em ponto pequeno numa loja em Paris. No entanto, é óbvio que é diferente do que estar perante a verdadeira Torre Eiffel, porque estas pequenas lembranças são exemplos óbvios de que não conseguimos sentir a verdadeira essência da obra original através deles. Mas quando falamos de pinturas, por exemplo, a Mona Lisa, um dos retratos mais famosos do mundo, esta diferença não é tão óbvia. Habitualmente julgamos que sabemos como o retrato da Mona Lisa se parece. Sabemos, claro, a sua aparência, mas há algo presente nesta obra, como em todas as outras obras, que nunca está presente nas versões que nós costumamos ver na televisão, na internet, etc. A aura da própria obra é algo que só conseguimos sentir verdadeiramente quando estamos perante a obra original. Neste sentido, a obra é totalmente diferente de todas as versões que vemos dela. É por isto que as pessoas normalmente se surpreendem quando vêem a Mona Lisa no Louvre, porque é diferente de como nós sempre a vimos, mesmo que tenhamos obtido toda a informação possível sobre ela sem a visitar.

   Existem muitas obras que foram substituídas por réplicas perfeitas, porque de alguma forma se quer preservar a original, algo que não seria possível se estivesse exposta a toda a gente que a quisesse visitar, como por exemplo as estátuas que existem nas fachadas das igrejas na Itália. Neste caso, é complicada a questão da aura que envolve a verdadeira, porque as pessoas, de alguma forma, pensarão que estão perante a verdadeira obra se não souberem que foi substituída, por isso nunca vão conhecer a verdadeira. É apenas uma réplica, ainda que não o saibam. Desta forma, as pessoas estão a experienciar algo que na verdade não estão. Portanto, estão “envolvidas” na aura da réplica, e não da verdadeira obra, mas de alguma forma, estão a ter a mesma experiência de como se estivessem perante a verdadeira obra, devido às condições onde se encontra, e o meio onde está exposta, que, supostamente, é onde estaria a obra original. Contudo, se a pessoa souber que a obra é, na verdade, uma réplica, essa experiência é afetada.

   Portanto, nós nunca sabemos como uma obra é realmente, na sua verdadeira essência, e por isso é que, no fundo, ainda precisamos de ir ao sítio onde ela está presente para a conhecermos. A aura da obra original é algo que só consegue ser sentido quando vemos a obra original.