“This
is America” é o novo single de Donald Glover (com nome artístico de
Childish Gambino) lançado dia 5 de Maio de 2018. Existe uma enorme polémica à
volta das duras críticas expostas pelo artista. Porém, decidi não ir pelo
caminho da mensagem e focar-me no vídeo lançado da música. O que pretendo é expor
um vídeo que transporte uma mensagem, a mesma é irrelevante, o importante é
como é transmitida, ou seja, o aparelho, o videógrafo e a Caixa Preta.
Segundo
Vilém Flusser, em “A Filosofia da Caixa Preta”, o universo fotográfico envolve
mais do que a fotografia, sendo tudo o resto produto do aparelho fotográfico,
que por sua vez, é produto de outros aparelhos. Neste caso, temos em análise o vídeo.
Os pontos-chave desta teoria são “Imagem”, “Aparelho”, “Programa” e “Informação”,
sendo que todos eles funcionam em círculo.
Podemos
chamar de Imagens técnicas aquelas que são fruto de aparelhos, como camaras de
filmar. Flusser defende que o carácter não-simbólico, objetivo, das imagens
técnicas faz com que o seu observador as olhe como se fossem janelas e não
imagens. O observador confia nas imagens técnicas tanto quanto nos seus
próprios olhos. Quando as critica não o faz enquanto imagens, mas enquanto
visões do mundo. Um exemplo disto é não só o videoclip de Childish Gambino,
como todos os outros vídeos existentes. Não estamos perante uma critica ao vídeo
em si, mas sim aos conceitos que o artista quer transmitir. A magia destas
imagens não visa modificar o mundo lá fora, mas os nossos conceitos em relação
ao mundo, manipulando a nossa forma de pensar, conscientemente ou não. Já para
não falar no carácter capitalista envolvido em todo este universo fotográfico
onde o preço dos aparelhos faz com que apenas uma parte da população os possua.
Os
aparelhos não mudam o mundo, mudam o homem, Não servem para consumo, mas sim
para informarem. Fotografós, músicos, videografos, pintores, escritores, entre
muitos, não são trabalhadores mas sim informadores. Childish Gambino, enquanto
músico, tem como “trabalho” ou “dever” transmitir uma mensagem. Neste caso
temos um músico e um videógrafo (Hiro Murai), os dois (e toda a equipa que os
rodeia) trabalham em conjunto em busca de uma coisa: informar, transmitir e
imortalizar conceitos.
Flusser
diz-nos “ O fotografo age em prol do esgotamento do programa e em prol da
realização do universo fotográfico. Já que o programa é muito “rico”, o
fotografo se esforça em prol da realização do universo fotográfico… a fim de
descobrir sempre novas potencialidades.”, “O aparelho passa a ser um brinquedo
e não um instrumento. E o homem que o manipula não é um trabalhador, mas sim um
jogador“. Dito isto, observamos que Flusser vê tudo isto como um jogo, e a
ideia de “Caixa Preta” está ligada à ideia do que ainda está por descobrir
nesse “jogo”, ou seja, no aparelho. Diz-nos, ainda, que os aparelhos são Caixas Pretas que simulam o pensamento
humano, graças a símbolos contidos no seu programa. Será então a fotografia ou vídeo
a melhor forma de expressar ideias neste mundo pós-industrial? Dado que a
imagem (pintura, desenho, etc) foi substituída pela imagem técnica (fotografia,
video, etc) e que vivemos cada vez mais alienados por estas e, posteriormente,
pelas redes sociais, a resposta é sim. Como seres frutos de uma sociedade
capitalista, artistas, empresas, marcas, entre muitos outros, procuram divulgar
o seu trabalho com as redes sociais, e para isso, precisam, por exemplo, de
videógrafos e fotógrafos. No caso especifico de “This is America”, o videógrafo
e o músico têm como objetivo alcançar visualizações perante o público, de modo
a transmitir os já mencionados “conceitos” mas também, obter rendimentos.
Segundo Flusser, vivem ignorantes, alienados pelos aparelhos, seguindo o
pensamento de que o que estão a fazer é arte, ignorantes ao que envolve essa “arte”.
A
mensagem de Childish Gambino em “This is America” é sobre liberdade, injustiça
racial e de direitos ao uso de armas. Vilém Flusser, com a “Filosofia da Caixa
Preta” fala-nos do problema da liberdade no mundo fotográfico, defendendo que
liberdade é jogar contra o aparelho.