À medida que o espectador conhece o autor (penso que posso empregar esta palavra visto que levou todo este projeto/filme/exposição a um nível extremamente pessoal) percebe a sua natureza assustadoramente racional: uma pessoa que faz listas para tudo, tendo mesmo um diário semanal através do qual estima o índice de felicidade dessa semana.
Tal racionalidade é visível na exposição que esteve no Museu da Eletricidade entre Abril e Maio deste ano, apresentando factos de uma forma muito clara, sobre o que faz (ou não) uma pessoa mais feliz, de uma perspetiva pessoal mas também a partir de dados estatísticos. Várias frases escritas, a caneta, nas paredes despertaram-me o interesse e fizeram-me abrir o bloco de notas e, posteriormente, escrevê-las na parede da minha casa.
ACTUALLY DOING THINGS I SET OUT TO DO INCREASES MY OVERALL LEVEL OF HAPPINESS. SEEK DISCOMFORT.
HAVING GUTS ALWAYS WORKS OUT FOR ME.
MAKE THE FIRST STEP.
TRYING TO LOOK GOOD LIMITS MY LIFE.
IF I DON’T ASK, I DON’T GET.
Em toda a exposição percebi o quanto a submissão à pressão social funciona contra a nossa própria felicidade. Reprimimos impulsos todos os dias, quando sentimos que queremos fazer algo e acabamos por não o fazer porque sair da zona de conforto parece demasiado perigoso.
Stefan incentiva que façamos estas mesmas coisas, e que procuremos o desconforto, afirmando que isso aumenta o nível geral de satisfação. Uma das frases que estava escrita no canto de uma sala foi a que ficou mais presa nas paredes da minha mente. Explicava como a não-realização de algo que sentimos que queremos fazer, por mais pequena que possa ser essa ação, dá lugar a uma sensação de irritação e impede o indivíduo de sentir a satisfação de completar essa “tarefa”. Coisas simples como meter conversa com alguém no metro ou dizer a uma pessoa próxima algo desagradável que nos incomoda e que sentimos que devíamos dizer-lhe podem aumentar (e aumentam mesmo, digo-o de um ponto de vista pessoal) o nosso nível de felicidade.
“Todos os homens procuram a felicidade. Sem exceção. Indiferentemente dos meios que utilizam para tal. A causa para uns irem para a guerra e outros a evitarem, contém o mesmo desejo em ambos, segundo pontos de vista diferentes. Este é o motivo para toda a ação de todo o homem, até mesmo aqueles que se enforcam.”
Em The Happy Film o autor tenta os 3 caminhos que comprovadamente aumentam o nível de felicidade de uma pessoa: meditação, terapia cognitiva e drogas. Jonathan Haidt, como consultor científico do projeto, aponta a Seigmeister que a felicidade não vem de termos o que queremos, não vem de dentro, como os Stoicistas e os Budistas afirmam, mas sim de ter o tipo certo de relações: entre o indivíduo e os outros, entre ele e o seu trabalho e entre ele e algo que é maior do que ele.
Toda a experiência é partilhada, até ao mais ínfimo pormenor, incluíndo relações interpessoais, casos amorosos que aparecem e desaparecem e a morte do realizador. E o foco, sempre na reação e na felicidade (ou ausência da mesma) de Stefan.
O fim do filme, e sinceramente toda a sua estrutura, é uma confusão. Uma confusão perfeitamente compreensível visto o grau de dificuldade de explicar como é que se é mais feliz. Se a resposta a essa pergunta fosse fácil e clara, metade dos nossos problemas estavam resolvidos.
A conclusão do filme é que o filme foi um desastre. Todo o filme é de uma crueza implacável, e acabou por ser muito mais pessoal do que inicialmente pensou: um projeto de design gráfico que começou 6 anos antes, acabou por se tornar todo sobre Stefan.
“Trying to chase after something more meaningful turned out to be a big pain in the ass. But it also did make my life fuller.”
“So what’s the purpose, why am i actually here? I guess it would be to do something that either delights or helps other people. Possibly find something that’s bigger than myself and dedicate myself to it.”
