domingo, 20 de maio de 2018

Boca do Inferno Curtas no Indie Lisboa 2018



A selecção de curta-metragens apresentada pela curadoria Boca do Inferno traz-nos os filmes mais controversos, estranhos e perturbantes que pretendem deixar o espectador à beira de um precipício. A selecção que foi apresentada no dia 2 de Maio de 2018 no Cinema Ideal dentro do âmbito do festival de filmes Indie Lisboa contou com a presença de sete curtas-metragens.

A sessão começou com “Cream” de Lena Ólafsdóttir , uma animação que se passa numa sala de espera de um consultório médico. Uma máquina de gelados dá a oportunidade aos pacientes para desfrutarem de um refresco enquanto esperam ao som de música calma, uma situação onde aparentemente nada pode correr mal já que existe ajuda por perto. Nisto é nos apresentado um homem aparentemente vindo de um manicómio que começa a perturbar a calma dentro da sala. A narrativa explora o ciclo da vida e faz uma crítica ao lado mais sombrio da humanidade. Não deixa de ser um filme caricato que deixou a sala de bom humor depois de várias cenas grotescas vindas directamente da Dinamarca.

De seguida somos levados até à Irlanda em “Catcalls” um filme de Kate Dolan. Explora o tema do assédio sexual em espaços que deveriam ser seguros como os subúrbios. No entanto depois do predador fazer o seu piropo e assediar duas raparigas que andam ao lado da estrada o feitiço acaba por se virar contra o feiticeiro e o predador passa a ser a vítima quando as raparigas se transformam em criaturas grotescas que acabam por terminar a vida do homem. Depois de terem respondido ao primeiro agressor são novamente assediadas numa ruela e acaba assim o filme que nos deixa num ciclo repetitivo. Aborda um tema muito actual, mas perde um pouco a dinâmica misteriosa quando entra no mundo fantástico na transformação das raparigas. De todos os filmes da sessão acaba por ser o que deixou menos impacto aos espectadores, mas não deixa de ser uma boa obra da artista.

Da Irlanda passamos para uma comédia francesa, “La vie sauvage” de Laure Bourdon Zarander. Arnaud e Nora estão de férias a tentar aproveitar o romantismo das planícies francesas e decidem ir visitar um parque safari. Os animais andam à solta pelo parque, tal como os visitantes. Depois de vários quilómetros sem encontrar qualquer sinal de vida animal o casal decide ter relações íntimas numa zona mais abrigada. Acabam por ser interrompidos por um grupo de camelos que estranha a sua presença, assustados acabam por sair do local o mais rápido possível continuando a sua viajem sem rumo. Perdidos e despidos enquanto procuravam a zona dos Tigres, começam a discutir. Nisto Nora zanga-se e sai do carro a correr, acaba por ser parada por um tigre que vagueava pela zona. Os ânimos elevam-se e acabam por ficar trancados fora do carro com as roupas do lado de dentro. São ajudados por uma família que passeava pelo parque, o dá azo a várias situações cómicas. O filme foi sem dúvida o que provocou mais riso na sala devido a naturalidade do humor e às situações caricatas resultantes das críticas às situações normais da vida de um casal.

De seguida é passado o filme Vanitá de Kevin Pontuti, uma narrativa egoística que mostra como um exterior aparentemente belo pode ser literalmente putrefacto por dentro. Passa-se numa cave que, ao que parece, remonta o sec.XIV onde uma rapariga está sentada a apreciar a sua própria imagem num espelho. A partir daí entra o aspecto grotesco do filme onde há referencias a canibalismo e onde o espectador é convidado a ficar com o estômago às voltas.

Voltando à animação é apresentado “Coyote” de Lorenza Wunderle um filme suíço onde nos e mostrada uma familia de coiotes que é comida por um animal muito maior. O único sobrevivente é o pai que acaba por ir numa viajem pós traumática pelo seu subconsciente. As animações são incríveis e muitas com um carácter algo psicadélico tornando a curta-metragem bastante interessante.

No penúltimo filme da sessão, “Touche Dièse” de Erwan Alepée, voltamos a França para uma comédia de três minutos. Alexandre é a personagem principal que se senta numa sala sozinho com um telefone para fazer uma chamada. Pega numa revista e apercebemo-nos que está prestes a fazer uma chamada de custo acrescentado para um bordel. Ao fim de algum tempo a tentar contactar uma das meninas, que se encontrava ocupada, acaba por lhe deixar uma mensagem de voz. Na mensagem percebemos que está a contactar a sua mulher e que ligou para o emprego porque o telemóvel não estava contactável. Este filme é a prova de que não é necessário ter muito tempo, muitos actores, ou muitas localizações para contar uma história.

A sessão é fechada por “Hard Way” de Daniel Vogelmann, um musical de acção. Por mais estranho que pareça a categoria deste filme os dois géneros são muito bem conjugados fornecendo um cenário aparentemente duro e frio contracenando-o com músicas amorosas e sentimentais. Esta mistura resulta num filme bem produzido com muitos momentos humorísticos no decorrer de uma operação contra terrorista.

Foram sem duvida bons momentos de cinema que festival tem fornecido ao longo de catorze anos de existência.