O Homem é um Ser social e desde os tempos mais
remotos (pré-históricos) se constata, através dos testemunhos históricos
deixados, por exemplo, em pinturas rupestres, a necessidade do mesmo de viver
em grupo. Todavia, sendo um ser racional
/pensante/criativo e social, era mais fraco e frágil em termos físicos que
outros animais da criação. Assim, o Homem procurou estar sempre em grupo e/ou
em pequenas comunidades de forma a sentir-se protegido e foi este raciocínio um
fator essencial para assegurar sobrevivência e evolução da Humanidade (dando
razão à máxima latina “et pluribus unum” – um por todos e
todos por um). No entanto, para que um grupo consiga alcançar harmonia e
sucesso é necessário haver um líder: alguém que tenha poder de tomar as
decisões, de comandar e de indicar o que o resto deve fazer ou agir. E foi sempre assim até aos dias de hoje!
Desfolhando os
livros de História, verificamos que a liderança, o comando e a forma de mandar
as massas ou uma pequena comunidade foi ganhando, consoante o perfil do líder,
“roupagens” diferentes. Na antiguidade clássica, passando pela Idade Média e
não só, a forma de poder, de mandar sobre outros foi muito mais evidente, com
castigos de execução pública, com o objetivo de causar medo e de afirmação do líder.
Apesar de este tipo de poder ser mais violento, reprovado pela maioria das
pessoas, fazendo parecer que o poder nos dias de hoje pareça ser mais bondoso,
na verdade, segundo Foucault, está longe disso. O sistema punitivo atualmente é
muito mais discreto, onde tudo acontece silenciosamente atrás de grades,
evitando a reprovação da sociedade (por vezes, “politicamente correta”) ou
comentários de aprovação e ainda, em alguns casos, a admiração por entre os
observadores quando viam um corpo de um condenado prestes a ser castigado! Pois o medo do desconhecido é um dos piores medos
do ser humano (quando só as pessoas que vão para a prisão é que sabem e sentem
realmente o que se passa)! Sendo assim, este tipo de poder é diferente do
repressivo (como nos tempos antigos).
Foucault sugere que a maioria do poder na sociedade moderna funciona
através do poder de normalização.
Enquanto que o poder repressivo é mais
violento e objetivo, como num caso de um país maior a conquistar um país mais
pequeno ou um homem ser abusivo para com a sua parceira (como quando se quer
fazer de uma maneira, mas se é forçado a fazer de outra). Nesses casos, para
Foucault, a necessidade de aplicar o poder implica uma falha: como quando um
Estado só prende um criminoso se as leis foram quebradas; um país só se dá ao
trabalho de invadir outro quando falham todas as maneiras de conseguir que o
outro país lhe submeta; e quando um homem ameaça a sua mulher não está, na
verdade, a exercer uma boa função de marido e a dar um bom exemplo para os seus
filhos, pois um bom homem de família, não sente a necessidade de se impor sobre
os outros. Basicamente as nossas vidas são formadas e/ou formatadas em volta do
poder repressivo ou pela sua ameaça (como se cometermos um crime, somos punidos
e mandados para a prisão). No entanto, não é ir para a prisão que nos mete mais
medo, é, na verdade, a ideia de podermos ir para a prisão se cometermos um
crime. O poder repressivo força-nos a fazer algo que não queremos fazer. O Poder
de normalização faz-nos querer fazer o que temos de fazer de qualquer maneira.
Transforma-nos em pessoas autómatas por vontade própria! Fazemos o que a
sociedade deseja que façamos! Por isso é que evitamos destacar-nos dos outros,
pela forma de pensar, aceitar opiniões generalizadas e até mesmo pela forma
como nos apresentamos no dia-a-dia (forma de vestir ou posturas caricatas),
tentamos tirar as melhores notas na escola enquanto miúdos, não porque queremos
saber mais, mas muita das vezes para correspondermos às exigências da
sociedade. Enquanto adultos, sermos bem-sucedidos no trabalho, ter um bom
ordenado, ter um carro caro. Queremos dar a ideia que somos normais, que somos
úteis. Este poder de normalização é o poder que determina o que nós vemos como
normal. Constrói a nossa maneira de observar o mundo e nós próprios, moldando
os nossos desejos, decisões, crenças...
Foucault
não acredita que há uma pessoa pura dentro de nós, inalterada pela sociedade,
foi ela que nos fez quem somos agora, as pessoas “acima” de nós, também são
sujeitos à normalização, ninguém é livre, acabamos por ser todos feitos de
carne e osso, iguais uns aos outros, tal como também todos somos
sujeitos/expostos, à biopolítica e à normalização imposta pela sociedade, pois
acreditamos que se assim o fizermos não só seremos beneficiado, como não
seremos postos de lado e julgados.
O
próprio poder, não é controlado ou até mesmo regulado por ninguém, é uma ideia
concreta na cabeça de todas as pessoas pertencentes a uma sociedade, poder este
que, usa a biopolítica e técnicas disciplinares, construídas por tecnologias
políticas e históricas, conforme a sociedade.
Foucault, não
acredita que consigamos fugir muito das ideias da sociedade, porque depois não
saberíamos por onde navegar, no entanto a conscialização da influência imposta
pela sociedade e os seus agentes de poder, não significa que não possamos
aspirar a ser o mais livres possível da repressão imposta.