Segundo Walter Benjamin, seria possível analisar a história da arte sob o ponto de vista do valor de culto e do valor de exposição da obra de arte.
O valor de culto está relacionado com as origens históricas da arte, o culto está ligado aos rituais, às práticas mágicas e culturais dos homens pré-históricos que foram sendo esquecidas ao longo da história, com o desfasamento entre o ritual e arte - a emancipação da arte. Durante a pré-história as imagens faziam parte de rituais mágicos para assegurar uma caça bem sucedida, por exemplo. Estas imagens eram mágicas, sagradas, com uma aura, e não criadas com o objetivo de serem apropriadas e expostas para apreciação de todos: "O que importa, nessas imagens, é que elas existem, e não que sejam vistas.” e ”O alce, copiado pelo homem paleolítico nas paredes de sua caverna, é um instrumento de magia, só ocasionalmente exposto aos olhos dos outros homens: no máximo, ele deve ser visto pelos espíritos."
Só com o passar do tempo as imagens passam a ser concebidas como obras de arte, no entanto, a Igreja até hoje preserva grandes obras que nunca vimos. "O valor de culto, como tal, quase obriga a manter secretas as obras de artes: certas estátuas divinas somente são acessíveis ao sumo sacerdote, na cella, certas madonas permanecem cobertas quase o ano inteiro, certas esculturas em catedrais da Idade Média são invisíveis, do solo, para o observador.” Isto faz sentido dado que submeter estas obras à exposição pública indiscriminada desvalorizaria o seu caráter sagrado. As imagens eram criadas com objetivos específicos: para executar/ensinar práticas rituais, ou, para a contemplação. No entanto, dar visibilidade ao mundo sagrado através das imagens e tornar o Divino “apreensível aos olhos”, foi uma prática adoptada pelo Cristianismo.
Com o surgimento da reprodução em série da obra de arte, o valor de culto - a contemplação -, e portanto a sua aura, dá lugar ao valor de exposição. "À medida que as obras de arte se emancipam do seu uso ritual aumentam as ocasiões para que elas sejam expostas”. Se antigamente as técnicas estavam ao serviço do ritual, atualmente elas emanciparam-se, tornaram-se técnicas da reprodução em massa. A exposição das obras de arte democratizou-se de tal forma que o domínio do seu valor de exposição gerou uma profunda mudança qualitativa na arte, quanto mais algo está exposto, mais será valorizado.
Esta mudança na arte gerada pelo domínio do valor de exposição, tem, por outro lado, levado à apropriação e banalização das imagens pela Indústria Cultural, voltada para o consumo em massa, sendo o cinema um exemplo disso. Os filmes servem para cultivar no Homem estas novas percepções e reações impostas por este aparelho técnico cuja função está em crescimento permanente na nossa vida quotidiana. A tarefa histórica que dá ao cinema o seu verdadeiro sentido é fazermos desse gigantesco aparelho técnico do nosso tempo objeto das intervenções humanas.