Gostaria de fazer uma pequena observação, e um acréscimo mais contemporâneo ao segundo episódio da série Ways of Seeing de John Berger, que foi discutido em aula.
O episódio começa com uma breve noção de separação e definição dos géneros na sociedade: “Men dream of women, women dream of themselves being dreamt of. Men look at women, women watch themselves being looked at.” Berger sugere que a publicidade e os nus femininos de modo geral, acabam por demasiadas vezes introduzir a mulher apenas como um objeto para ser olhado. Um símbolo de sexualidade, mas não a dela própria, e sim de quem a vê, o espectador. Aponta como na maior parte das vezes, o nu feminino é colocado, não numa representação da mulher sem roupa, mas como se a sua própria pele servisse de roupa, de disfarce, no contexto em que é colocada.
Na segunda metade do episódio Berger junta uma mesa de mulheres e discute as obras que nos apresenta previamente, e pede-lhes que comentem não a arte em si, mas os seus pensamentos sobre a maneira que os homens veem as mulheres e como as terão visto no passado, e também como isto vem (ou não) a influenciar a maneira como as mulheres se veem a si próprias. Uma das frases ditas que me marcou foi “You think the female body is beautiful, I am a beautiful object, if not I have to do something about it.”
A frase é dita como uma exposição e crítica, quase como se dissesse, isto é o que eu sentia, e está errado, porque eu não o deveria sentir. Verdadeiramente, a mulher, a meu ver, não deveria sentir essa obrigação de ter de fazer algo a respeito de si própria e do seu corpo caso não fosse o arquétipo de beleza. No entanto, sinto que quase 50 anos depois, este ideal ainda não foi completamente apagada dos meios de influência (publicidade e televisão), e o contra-argumento que foi gerado acaba por ter hoje mais efeitos negativos do que positivos.
O que acontece é que ao invés de apenas quebrar o dogma de que as mulheres têm de ser bonitas, começou-se a envergonhar aquelas que de facto eram e gostavam de ser bonitas e vaidosas. Portanto, em vez de normalizar e aceitar-se a mentalidade de que não é obrigatório termos uma dobrada atenção à nossa aparência, começa-se a julgar e ridicularizar a visão oposta.
Isto confirma-se diariamente, quando nos apercebemos que não há situação onde a mulher possa verdadeiramente vencer. Se não quer ser uma visão para ser observada, é julgada porque, como mulher deveria ter algum cuidado com a aparência; se de facto quer exibir a sua imagem, é automaticamente vulgarizada e reduzida a esse único plano de existência, como se não fosse autorizada a ser mais do que isso.