sexta-feira, 25 de maio de 2018

O poder sobre as sociedades segundo Foucault


  Desde os primórdios da vida do Homem que este sentiu necessidade de viver em grupo. Nós sendo seres racionais e sociais, mas de certa forma mais fraca e frágil que os outros seres, estar em conjunto é um fator essencial para assegurar a nossa sobrevivência e evolução. No entanto, para que um grupo consiga alcançar harmonia e sucesso é necessário haver um líder: alguém que tenha poder de tomar as decisões, de comandar e de indicar o que o resto deve fazer ou agir.  E foi sempre assim até aos dias de hoje.
  Em tempos mais antigos, a forma de poder, de mandar sobre outros foi muito mais evidente, com castigos de execução pública,  com o objectivo de causar medo ao povo e de afirmação do poder de quem manda. Apesar de este tipo de poder ser mais violento, reprovado pela maioria das pessoas, fazendo parecer que a o poder nos dias de hoje pareça ser mais bondosa, na verdade, segundo Foucault, está longe disso. O sistema punitivo actualmente é muito mais discreto, onde tudo acontece silenciosamente atrás de grades, evitando o tipo de furor, comentários ou admiração por entre os observadores quando viam um corpo de um condenado prestes a ser castigado.  Pois o medo do desconhecido é um dos medos do ser humano (quando só as pessoas que vão para a prisão é que sabem e sentem realmente o que se passa). Sendo assim este tipo de poder é diferente do repressivo (como nos tempos antigos)  Foucault sugere que a maioria do poder na sociedade moderna funciona através do poder de normalização.
  Enquanto que o poder repressivo é mais violento e objectivo, como num caso de um país maior a conquistar um país mais pequeno ou um chefe ser abusivo para com os seus trabalhadores (como quando queres fazer de uma maneira mas és forçado a fazer de outra). Nesses casos, para Foucault, a necessidade de aplicar o poder implica uma falha : como quando um Estado só prende um criminoso se as leis foram quebradas; um país só se dá ao trabalho de invadir outra quando falha todas as maneiras de conseguir que o outro país lhe submeta falham; e quando um patrão que ameaça os seus trabalhadores não está na verdade em controlo, pois alguém que controla realmente não precisa de ameaçar. Basicamente as nossas vidas são formadas em volta do poder repressivo ou pela sua ameaça (como se cometermos um crime, somos punidos e mandados à prisão). No entanto, não é ir à prisão que nos mete mais medo, é, na verdade, a ideia de podermos ir à prisão se cometermos um crime. Poder repressivo força-nos a fazer algo que não queremos fazer. Poder de normalização faz-nos querer fazer o que temos de fazer de qualquer maneira. Transforma-nos em pessoas que automaticamente por vontade própria, faz o que a sociedade deseja que façamos. Assim, seguindo o exemplo, nós desde pequeninos fomos ensinados a não roubar. Fomos também, ensinados a sermos bem sucedidos no futuro, ir à faculdade e licenciarmos. Enquanto estudantes, a sociedade deixa-nos fazer todas as loucuras, pois quando acaba, sabe que estaremos prontos e com vontade de juntar ao campo do trabalho, sendo um instinto natural querermos fazer parte de um grupo e sermos úteis. Isto tudo leva-nos à palavra chave que descreve esta maneira de poder: normal. Poder de normalização é poder que determina o que nós vemos como normal. Constrói a nossa maneira de observar o mundo e nós próprios, moldando os nossos desejos, decisões, crenças...
  Foucault é céptico à ideia de exsitir um verdadeiro “eu” escondido por baixo da sociedade que nos “construiu”, pois sem sociedade não seríamos uma pessoa. Somos e seremos sempre normalizados.  Poder de normalização é assim um poder que consegue confirmar que a maior parte das pessoas não vão roubar, que confirma que temos de fazer o que um patrão manda pois acreditamos na hierarquia e termos o desejo de subirmos e sermos nós um patrão no futuro.
  O poder na verdade não é algo que é dominado por um grupo de indivíduos sobre outros, mas algo que estamos todos sujeitos. A sociedade também dá ideia de como um patrão se deve comportar, levando-nos a concluir que na verdade segundo Foucault ninguém é realmente livre. Somos apenas corpos de massa, um invólucro que se mantém ao longo da história. Somos uma matéria moldável, transformável por técnicas disciplinares e de biopolítica. O nosso corpo é um ente que sofre da ação das relações de poderes que compõem tecnologias políticas específicas e históricas.
  Afinal, qual é o uso de sabermos isso?
  Foucault, tal como dito anteriormente, não acredita que consigamos quebrar radicalmente das maneiras que fomos moldados pela sociedade porque depois não nos restaria nada. Mas acredita que tornando-nos conscientes das diferentes maneiras de sermos subjugados pelo poder, podemos ser mais autónomos. Este filósofo é de facto, uma fonte criadora de ideias dominantes, questionando as instituições de poder nos tempos modernos através da sua história e evolução.