sexta-feira, 25 de maio de 2018

Um olhar a “Uma Maneira de Ser Moderno”


Esteve durante o ano passado, presente na Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, uma exposição de José de Almada Negreiros: “Uma Maneira de Ser Moderno”.
Almada foi um artista diversificado. Desde as artes plásticas, até à cenografia, passando pela escrita, representação, ballet, José de Almada Negreiros experimentou uma quantidade imensa de linguagens artísticas ao longo da sua vida, que são todas de certa forma influentes nesta exposição.
O percurso por “Uma Maneira de Ser Moderno” é como uma viagem ou apreciação de um variado espetáculo, onde a cada passo que se dá, sente-se a presença da arte nas suas múltiplas formas, fazendo com que cada obra traga diferentes sensações aos diferentes espetadores, com a ideia de dar uma ideia total da modernidade.
Almada trouxe assim essa ideia, não se limitando a ficar pelo papel de pintor ou desenhador, mas comunicando com o público partilhando os diferentes estímulos que deram origem à sua obra que mostra que a experiência de ser moderno é não só complexa como contraditória. Atribuía-se a si próprio a responsabilidade, não de pertencer à modernidade, mas de a fazer acontecer.“Isto de ser moderno é como ser elegante: não é uma maneira de vestir, mas sim uma maneira de ser. Ser moderno não é fazer a caligrafia moderna, é ser o legítimo descobridor da novidade.” Afirmou o artista numa conferencia.
A exposição encontra-se dividida em vários núcleos, em que cada um retrata um mote do diversificado trabalho de Almada Negreiros. A jornada por estes núcleos é por si comunicativa e fluida, o que faz com que o espetador se sinta como se estivesse a entrar pela vida do artista, através de uma comunicação pelos sentidos.
O sentido mais privilegiado pelo artista era a visão. José de Almada Negreiros interpreta este sentido como a raiz de toda a arte e pensamento, definindo a sua arte como um “espetáculo” (proveniente do latim spectāre) que significa contemplar.
O artista dá um tremendo valor aos seus olhos, dando-lhes destaque não só na sua escrita “Os meus olhos não são meus, são os olhos do nosso século”, como na pintura ou desenho, através dos diversos autorretratos que fez. Representados por vezes de forma figurativas, outras mais abstrata, mas sempre pondo em evidencia os olhos, nestas obras, como se consegue reconhecer na exposição.
Encontrou na visão uma linguagem universal, e dos olhos criou uma metáfora maior que a sua identidade: Servem para devorar conhecimento. São um elo de ligação entre o entendimento do mundo e a sua transformação em arte.
Os seus olhos significavam a capacidade de maravilhamento e é também graças aos nossos que houve a oportunidade de maravilhar a obra de José de Almada Negreiros.