sábado, 26 de maio de 2018

Being “Chained to the Rythm”

Não há felicidade sem autoconhecimento. Além do tom político, a música “Chained To The Rhythm”, é um reflexo e um questionamento melancólico em forma de música pop sobre como vivemos a nossa vida –  So comfortable, we’re living in a bubble, bubble. So comfortable, we cannot see the trouble, trouble (Tão confortáveis que vivemos numa bolha, bolha. Tão confortáveis que não conseguimos ver o problema, problema).
“Chained To The Rhythm” é uma crítica de si; um sistema falho torna-se numa alternativa que usamos para fuga da própria realidade. Assim, a palavra “ritmo” poderia ser substituída por tudo aquilo que impede as pessoas de terem a vida que desejam. Acabamos por compreender que o caminho do auto-conhecimento não é fácil, nem instantâneo.
 No meu ponto de vista, tudo isto se encontra interligado com a doutrina ética do utilitarismo defendida, principalmente, por Jeremy Bentham e John Stuart Mill. Como se sabe, o utilitarismo, concebido como um "critério geral de moralidade", pode e deve ser aplicado tanto às ações individuais quanto às decisões políticas, tanto no domínio económico quanto nos domínios sociais ou judiciários. Para Jeremy Bentham e John Stuart Mill, uma ação é moralmente correta se tende a promover a felicidade, e condenável se tende a produzir a infelicidade, considerada não apenas a felicidade do agente da ação, mas também a de todos afetados por ela.
Esta doutrina rejeita o egoísmo, opondo-se a que o indivíduo deva perseguir os seus próprios interesses, mesmo às custas dos outros, e se opõe também a qualquer teoria ética que considere ações ou tipos de atos como certos ou errados independentemente das consequências que eles possam ter. Sendo assim, o utilitarismo difere radicalmente das teorias éticas que fazem o caráter de bom ou mal de uma ação depender do motivo do agente porque, de acordo com o utilitarismo, é possível que uma coisa boa venha a resultar de uma má motivação no indivíduo.
Para mim, a doutrina do utilitarismo adequa-se totalmente aos significados presentes na música da cantora pop, Katy Perry. Começando pelas paisagens bonitas da cidade ou parque de diversões fictício “Oblivia” (palavra em latim que quer dizer esquecimento) servem para dar vida a um cenário real: o momento em que Donald Trump havia ganho a presidência dos Estados Unidos. Basicamente este videoclip e música mostram a maneira como as pessoas vivem de uma forma confortável – tudo isto porque a maioria assim quis; pela “felicidade” que a maioria das pessoas defendeu e votou, mesmo que haja partes que se encontrem de alguma forma erradas para a minoria. Desde que tudo siga uma regra de “ser correto” ou “fazer o correto”, tudo se encontra bem, supostamente.
Aparte da ideia principal que pretendo transmitir, vemos muitas outras criticas realizadas neste videoclip. Uma das primeiras criticas consiste na discussão na internet: os limites, e dilemas das selfies. Temos também a montanha russa com lugares separados por género, sendo colocada como uma metáfora para as redes sociais e para a aprovação alheia que se procura.

Seguindo a mesma sequência, alguns homens com cabeça de bolha conduzem um casal para dentro de uma mini casa. Assim, fica clara uma crítica aos modelos atuais de família compostos por homem e mulher e o isolamento que dificulta a saída da bolha e a incorporação de novas ideias. Para mim, é nesta parte que esta analogia entre a música e o utilitarismo começa a fazer sentido, mesmo que muitos não concordem – as pessoas isolam-se tanto dentro da sua própria bolha e “felicidade” que não vêm nada ao seu redor. Isto acontece porque a maioria da população decidiu que esta era a decisão correta a ser feita para viverem um “bom” modo de vida. Como foi referido anteriormente, esta doutrina rejeita o egoísmo – sendo assim, tal e qual como o videoclip mostra, todas as pessoas vivem de maneira igual, sem poderem tomar uma decisão por eles mesmos, já que isso iria ser considerado “errado”.
Outra critica encontra-se no momento em que a cantora se “pica” na rosa. A flor com espinhos é um elemento icônico da representação das falsas aparências: nem tudo que é bonito e agradável é capaz de nos fazer realmente felizes. Há uma inovação realizada na rosa – a sua haste é feita de arame farpado o que é geralmente utilizado em cercas.

Continuando no mesmo tema das cercas, na fotografia que se segue, é possível visualizar um enorme muro que, supostamente, é uma animação daquele parque de diversões. Este ironiza as condições dos imigrantes que tentam cruzar as fronteiras dos EUA e que muitas vezes acabam por morrer antes de entrar em território americano. Além disso também é evocada a ideia da guerra como algo realizado por diversão.

No começo, a sensação é de que Katy (a cantora, que participa como personagem principal) é a personagem que se encontra, digamos, “mais desperta” dentro de toda a situação. Ela parece questionar algumas coisas, mas mesmo assim segue. Quando o cantor Skip Marley aparece em cena "quebrando" o ritmo da música, parece ser aquele que vem para “salvar” todos, mas o recomeço do refrão impede, mais uma vez, que todos saiam do estado de transe.
A partir deste ponto, podemos dizer que Katy se encontra em vias de acordar de todo o sonho e perceber que, assim como a maioria de nós, ela estava na falsa ideia de movimento, mas sem conseguir sair do lugar. E agora, toda a felicidade e deslumbramento da chegada a Oblivia, se transforma numa descoberta de algo aterrador – ela apercebe-se de que há muito mais para além da forma como ela vivia e encarava as coisas.