quinta-feira, 24 de maio de 2018

Ser Abstrato

Não existe consenso no tema relativo à distinção da sociedade humana à animal. Será que as nossas habilidades cognitivas diferem das dos outros animais, quer seja em espécie ou em grau? Seremos uma classe única ou apenas uma classe mais inteligente que as restantes?

Charles Darwin defendia que o ser humano é meramente mais inteligente como resultado de uma evolução cognitiva, enquanto que Marc Hauser – director do laboratório de evolução cognitiva da Faculdade de Harvard – defende que existe uma diferença substancial enorme entre o intelecto humano e o animal.
De acordo com o dicionário português, "animal" afirma-se ser "um ser vivo multicelular, com capacidade de locomoção e de resposta a estímulos (…) e/ou um ser vivo irracional, por oposição ao homem". "Homem" restringe-se por ser um "mamífero primata, bípede, com capacidade de fala e que constitui o género humano". Pela simples descrição, denota-se que a diferença substancial é a Língua, ou seja, a capacidade de comunicar através da fala, bem como a racionalidade.

Depreende-se que a maior diferença entre ambas as sociedades é a consciência: a capacidade de compreender conceitos e ideias, de as transmitir e cultivar socialmente, criando e desenvolvendo uma cultura. Claude Lévi-Strauss aponta que a principal diferença é a comida cozinhada que permite ao ser humano tempo para a dedicação a outras actividades. Em suma, regista-se uma diferença na hereditariedade, pois transmitem-se hábitos, tradições e costumes para gerações mais novas, acumulando assim experiência e intelecto de gerações passadas.

Os animais guiam-se puramente por necessidades, sensações e instinto natural. Algumas espécies conseguem comunicar e transmitir igualmente informação, mas não conseguem pensar em abstracto como o ser humano faz - contemplação do que está além dos sentidos. O Homem tem inteligência e consegue compreender não só o mundo in presentia mas também o mundo das ideias, in absentia - das realidades imateriais e incorporais – como o tempo, e até mesmo a própria religião que assenta em algo inexistente no mundo das coisas. 


O Homem distingue-se maioritariamente pelo seu intelecto abstracto que permite comunicar através de gerações por provocar uma transmissão de cultura pela hereditariedade. Os animais também possuem capacidade cognitiva, algumas espécies com estas bastante elevadas, mas guiam-se pelo seu instinto de sobrevivência: não reflectem sobre o passado ou o futuro, mas sim no viver o presente. Concluo que a sociedade humana é uma espécie que se desenvolveu mais no campo cognitivo, o que aos poucos permitiu também a sua evolução enquanto espécie e capacidade de sobreviver na sua inteligência e transmissão de cultura. Não passamos de uma classe algo mais desenvolvida nessa campo - o intelecto é a nossa grande potência, bem como a nossa maior fragilidade.