Não
existe consenso no tema relativo à distinção da sociedade humana à animal. Será
que as nossas habilidades cognitivas diferem das dos outros animais, quer seja em espécie
ou em grau? Seremos uma classe única ou apenas uma classe mais inteligente que
as restantes?
Charles
Darwin defendia que o ser humano é meramente mais inteligente como resultado de
uma evolução cognitiva, enquanto que Marc Hauser – director do laboratório de
evolução cognitiva da Faculdade de Harvard – defende que existe uma diferença
substancial enorme entre o intelecto humano e o animal.
De
acordo com o dicionário português, "animal" afirma-se ser "um ser vivo
multicelular, com capacidade de locomoção e de resposta a estímulos (…)
e/ou um ser vivo irracional, por oposição ao homem". "Homem" restringe-se por ser um "mamífero primata, bípede, com capacidade de
fala e que constitui o género humano". Pela simples descrição,
denota-se que a diferença substancial é a Língua, ou seja, a capacidade de
comunicar através da fala, bem como a racionalidade.
Depreende-se
que a maior diferença entre ambas as sociedades é a consciência: a capacidade
de compreender conceitos e ideias, de as transmitir e cultivar socialmente, criando e desenvolvendo uma cultura. Claude Lévi-Strauss aponta que a principal
diferença é a comida cozinhada que permite ao ser humano tempo para a dedicação
a outras actividades. Em suma, regista-se uma diferença na hereditariedade,
pois transmitem-se hábitos, tradições e costumes para gerações mais novas,
acumulando assim experiência e intelecto de gerações passadas.
Os
animais guiam-se puramente por necessidades, sensações e instinto natural.
Algumas espécies conseguem comunicar e transmitir igualmente informação, mas
não conseguem pensar em abstracto como o ser humano faz - contemplação do que
está além dos sentidos. O Homem tem inteligência e consegue compreender não só
o mundo in presentia mas também o mundo das ideias, in
absentia - das realidades imateriais e incorporais – como o tempo, e
até mesmo a própria religião que assenta em algo inexistente no mundo das
coisas.
O
Homem distingue-se maioritariamente pelo seu intelecto abstracto que permite
comunicar através de gerações por provocar uma transmissão de cultura pela
hereditariedade. Os animais também possuem capacidade cognitiva, algumas
espécies com estas bastante elevadas, mas guiam-se pelo seu instinto de
sobrevivência: não reflectem sobre o passado ou o futuro, mas sim no viver o
presente. Concluo que a sociedade humana é uma espécie que se desenvolveu mais
no campo cognitivo, o que aos poucos permitiu também a sua evolução enquanto
espécie e capacidade de sobreviver na sua inteligência e transmissão de
cultura. Não passamos de uma classe algo mais desenvolvida nessa campo - o
intelecto é a nossa grande potência, bem como a nossa maior fragilidade.