Durante os dias de 17 a 20 de maio
ocorreu na Praça do Império em Belém o Festival Internacional da Máscara
Ibérica, cujo ponto alto foi a Parada de Caretos na tarde do dia 18.
Ao longo deste festival foram celebradas as várias tradições de se
mascarar presentes na Península Ibérica, este ano com participação especial do
Brasil e da Irlanda, bem como as suas gastronomias que foram apresentadas em
bancas na Praça do Império.
Durante a Parada de Caretos foi possível observar ao mesmo tempo o quão
diferentes e originais cada fato pode ser, mas também se pôde notar as suas
semelhanças. Os vários participantes mascararam-se de criaturas sobrenaturais
ou diabos e demónios, com roupa de várias cores e máscaras assustadoras que desde
tempos primordiais servem para várias razões, sendo as mais comuns o afastamento
de “maus espíritos”, de pestes e de doenças. Contudo, principalmente em Portugal,
os Caretos, para além de afastarem espíritos maldosos, afastam especificamente
esses males para garantir a fertilidade das mulheres.
Durante milénios, a reprodução foi bastante importante para a
continuação da nossa espécie: foi uma questão de vida ou de morte, já que a
falta de indivíduos de uma espécie leva à sua extinção. Na falta de processos
científicos e de melhores soluções para problemas do foro físico como a
infertilidade, várias comunidades foram criando rituais e tradições de modo a
purgar esses males.
Pensa-se que a tradição dos Caretos em Portugal tenha começado com a
chegada do povo Celta à Península Ibérica, no Perído Pré-Romano, e seja o
resultado de rituais de fertilidade inicialmente agrários. Desde essa época que
homens, e mais recentemente mulheres, se vestem com fatos de lã de várias
cores, máscaras de couro, madeira ou latão e usam cintos repletos de chocalhos
ou sinos com o propósito de perseguir e “chocalhar” (ato de abanar os
chocalhos) jovens virgens e solteiras. Assim, garante-se que elas sejam férteis
e possam procriar, garantindo a continuação e o crescimento da espécie humana.
Não há como não ver uma recriação
do ato sexual neste ritual: os rapazes pegam em raparigas pelas ancas, o centro
do seu corpo, nas quais abanam os seus chocalhos, uma substituição do ato de
penetração vaginal.
Também há quem veja uma clara
dinâmica de poder masculino sobre o feminino, nos homens a andarem atrás das
mulheres sobre as quais exercem os seus “poderes mágicos” ou influência. Mas, a
meu ver, apesar desta dinâmica, não é uma dinâmica de poder em que há uma
entidade dominadora e outra submissa nos verdadeiros sentidos das palavras. É
mais uma espécie de sistema de troca: o homem ao “chocalhar” a mulher afasta-a
de forças malévolas que possam interferir na sua saúde e a mulher em troca
oferece o fruto dessa proteção na forma do seu filho.
Concluindo, apesar de malandros, os
Caretos não querem dominar e tomar as mulheres para si, apenas querem garantir
o seu bem-estar e, após fazerem isso, deixam-nas seguir as suas vidas.


