domingo, 27 de maio de 2018

O "nu" feminino

   A palavra “nu” pode ser interpretada de várias formas: a inexistência de roupa sobre o corpo, ausência de qualquer disfarce ou ilusão, e representação do corpo para agrado do espetador.
   Estar nu, não significa simplesmente o ato de nudez, mas o seu significado varia dependendo da maneira como o corpo e a pessoa representada são retratados.

   Desde cedo a nudez esteve presente na arte, quer para retratar cenas bíblicas, quer para representar idealizações do corpo humano. Mas quando passou de ser um retrato de algo, para a objetificação do corpo?
   Na maioria das pinturas europeias, há uma grande tendência em representar a mulher como um objeto onde a sua nudez é como um género de adereço que está ali para ser apreciado e com o objetivo de satisfazer. Por consequência, a ideia de que o corpo da mulher é visto como um objeto de fins satisfatórios para o espetador masculino expande, fazendo com que a nudez feminina se torne num elemento decorativo capaz de provocar prazer, onde o seu olhar, estando sozinha ou não na ação em que esta representada, está fixado apenas numa coisa, o espetador.
   Qualquer tipo de poder ou dominância que a mulher possa ter, seja a sua expressão sejam quaisquer sinais de pelos ou o “à vontade”, são minimizados, pois o importante é dar ao homem a sensação de ser o que domina.

   Podemos então questionar onde realmente se encontra a sexualidade da obra. Estará a mesma dentro e presente na obra ou estará talvez à frente da obra, na pessoa que a observa e admira?
   Dürer dizia ainda que podíamos atingir uma representação idealizada, pegando em partes de vários corpos para fazer um perfeito, mas não seria isto apenas uma ideia que desvalorizava ainda mais quem é representado? Não significa uma indiferença ainda maior pela mulher, visto que quem se continua a querer agradar acima de tudo é o espetador, que simplesmente olhará para a pintura como algo a expor e admirar?

   Noutro contexto, por exemplo em Rembrandt, a nudez observa-se quase como um poema visual, é representada como a mulher realmente é, captando a atenção do espetador, mas mantendo uma representação fiel, desprovida de qualquer dissimulação ou intenção de objetificar o corpo feminino. O corpo e a alma estão representados como são.
   Podemos também observar que em outras culturas, a mulher ao invés de ser representada como um objeto ou até com o fim de satisfazer, é representada como um igual que participa na pintura com a mesma importância que o homem. Podemos observar nas pinturas asiáticas da índia, que nas de carácter mais erótico, a mulher não é de maneira nenhuma menosprezada ou subvalorizada, a mulher esta ali para agradar ninguém se não a ela mesma, não fixando o espetador porque a ação em que participa é de longe mais importante.