O cinema é atualmente uma das
principais e mais influentes formas de arte, com as grandes produções e
distribuição em larga escala é difícil ficar fora da sua esfera de influência.
Contudo como qualquer forma de arte é também influenciável pelas artes que a
precederam, e no caso do cinema, há outras seis que se fazem anteriores, com
isso é fácil herdar os conceitos das artes anteriores que herdam seus conceitos
da sociedade, mesmo quando a arte questiona, questiona o que era questionável
em sua época e mostra qual eram as formas de ver o mundo da época em que se
encontra.
No texto de
Laura Mulvey, O Prazer Visual e o Cinema Narrativo, a autora trata das questões
de gênero e da representação do feminino no Cinema, analisando também como o
Cinema no final herda suas características, tanto Visuais quanto Narrativas,
das artes que o antecederam e essas por consequência herdam seus modos de ver
da sociedade através segundo a autora da língua, Mulvey analisa como a figura
da mulher se insere na arte que é obviamente uma representação da figura da
mulher na sociedade e que muitas vezes nos mostra o machismo presente na nossa
sociedade e consequentemente na nossa arte.
Em 2017 a Warner
Bros. lançou o filme da Mulher Maravilha personagem feminina da DC Comics, foi
o primeiro filme de uma heroína como protagonista nos cinemas, dirigido por
Patty Jenkins, o filme foi um sucesso não só nas críticas como entre os fãs,
principalmente entre as mulheres que viram pela primeira vez a representação de
uma heroína como a grande salvadora nas telas dos cinemas. No mesmo ano a
Warner Bros. também lançou o filme Liga da Justiça em que apesar de não ser a
protagonista Mulher Maravilha também faz parte do grupo de heróis, sendo uma
das mais poderosas do grupo. Liga da Justiça no geral não teve uma aceitação
tão alta quanto Mulher Maravilha, em criticas e entre os fãs da DC Comics,
contudo o que mais chamou atenção foi o modo como a Mulher Maravilha é retratada
nos diferentes filmes, no filme dirigido por Zack Snyder, Jay Oliva e James
Wan, é possível observar uma acentuada sexualização da personagem, que aparece
em diversas cenas de luta em ângulos cujo o único intuito é mostrar seu corpo.
Até mesmo quando a personagem aparece em cenas em que está representando uma
mulher comum, as roupas utilizadas possuem decotes e aberturas, alguns fãs
chegaram a comparar em imagens lado a lado, cenas de ação em que a heroína
aparece batalhando entre um filme e outro, e na direção masculina fica evidente
a seleção de ângulos de câmeras que procuram mostrar mais o corpo do que o
movimento da batalha em si. A mesma comparação é feita em cenas em que Gal
Gadot é simplesmente Diana e traja roupas normais ao invés de seu traje de
batalha e até mesmo nesta ocasião é possível perceber a diferença na escolha da
vestimenta feitos por Patty Jenkins comparada com a dos outros diretores.
Assim podemos ver que uma das próprias influencias
e diferenças na arte de cada sociedade é também a quem é permitido e
socialmente aceito fazer arte, neste caso entre os dois filmes é possível
observar que a arte representa a visão de quem a faz, e no caso da Liga da
Justiça apesar de ter a mesma personagem de Mulher Maravilha, a sua representação
muda de um filme para o outro, passando da poderosa guerreira que batalha pelo
seus ideais, para uma guerreira com um intuito maior de símbolo sexual, um
apelo visual para atingir um público. O texto de Laura Mulvey da década de
setenta se faz atual ao modo de fazer arte de hoje.