As relações de género, como as conhecemos atualmente, foram
construídas através de ideias socioculturais que indicavam o que seria adequado
aos homens e às mulheres. O género masculino e feminino é apenas uma forma de
referir-se às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de
homens e mulheres respetivamente. Na era do cinema clássico de Hollywood, os
espectadores foram sistematicamente encorajados a identificarem-se com os
protagonistas, que eram e ainda são maioritariamente masculinos. Enquanto as
personagens das mulheres de Hollywood tinham o propósito de "ser
olhadas" enquanto o posicionamento da câmara e o espectador masculino
constituíam o "portador do olhar".
Laura Mulvey, crítica cinematográfica e feminista britânica,
utiliza a teoria da psicanálise como uma "arma política" para demonstrar
como o subconsciente patriarcal da sociedade molda não só a nossa experiência
cinematográfica como também o próprio cinema. Mulvey acredita que o texto
cinematográfico é organizado de acordo com linhas que correspondem ao
subconsciente cultural, sendo este, essencialmente patriarcal. Laura Mulvey
argumenta que a popularidade dos filmes de Hollywood é determinada e reforçada
por padrões sociais preexistentes que moldaram o assunto fascinado. O principal
argumento de Mulvey em "Visual Pleasure and Narrative Cinema",
baseia-se no facto de a maioria dos filmes de Hollywood usarem as mulheres para
proporcionar uma experiência visual prazerosa para os homens. Ou seja, o filme
narrativo estrutura o ponto de vista como masculino onde a mulher é sempre o objeto
do olhar masculino, quer por meio da identificação produzida com o herói
masculino quer pelo uso da câmara. Muitas vezes o cinema utilizou de imagens de
carácter patriarcal, que por meio de artifícios tradicionais, depreciavam a
imagem da mulher.
Mulvey utiliza alguns dos seus conceitos para argumentar que
o cinema clássico inevitavelmente coloca o espectador numa posição de sujeito
do género masculino, com a figura da mulher como o objeto de desejo sobre
"o olhar masculino ". De facto, a perspetiva cinematográfica do
espectador é quase sempre produzida através da suposição de que o observador é
exclusivamente do género masculino. Laura Mulvey identifica dois métodos pelos
quais o cinema de Hollywood transmite prazer ao espectador. Estes surgem através
de diferentes mecanismos mentais, o primeiro envolve a objetivação da imagem e
o segundo a identificação com a mesma, onde ambos os representam os desejos
mentais do sujeito masculino. O ponto central da crítica cinematográfica
feminista é o poder controlador do “olhar masculino” no cinema, esse olhar que
tem como intuito marginalizar as mulheres, pelo silêncio ou pela ausência.
Podemos observar alguns desses exemplos na coleção de filmes "007",
inspirados na personagem fictícia "James Bond" criada pelo escritor e
agente de inteligência britânico Ian Fleming. Alguns destes filmes rebaixam a
figura feminina pela sua desvalorização em cena, desempenhando papéis
irrelevantes sempre numa situação submissa às personagens masculinas. Nas capas
e pósteres, as figuras femininas quando estão presentes, são colocadas num
segundo plano em poses sexuais e frequentemente comparadas a objetos. Atualmente,
a indústria cinematográfica tem progredindo na representação do sexo feminino,
no entanto ainda existe um longo caminho a percorrer para erradicar por
completo a perspetiva extremamente machista do cinema.


