quinta-feira, 24 de maio de 2018

Sexo, Sexualidade e uma Questão de Estilo



         Desde de sempre, que existe na mente humana um nó em relação à diferença entre sexo e sexualidade. Milhares de pessoas sofreram, foram perseguidas e morreram, ao longo dos anos, porque o Homem não foi capaz de desfazer o emaranhado de significados destes dois termos. Não apenas por esse motivo, claro, a terrível possibilidade de o mundo não se reger pelos seus rótulos pré-definidos, também contribuiu.
            De modo a se definirem inequivocamente, estes dois conceitos, recorreu-se à metáfora. Por exemplo, utilizando o alfabeto: constituído por 26 letras que sozinhas não transmitem ideia alguma, porém quando conjugadas surgem livros, mensagens, leis… ou seja, estes 26 símbolos são somente um meio utilizado para criar/definir algo. O mesmo se sucede com o sexo e a sexualidade, sendo o primeiro as letras e o segundo as palavras.
            No entanto, este nó não fica apenas nestes dois termos. Dado que a questão do sexo e sexualidade ficou compreendida, surge, agora, um novo emaranhado entre o último referido e a masculinidade/feminilidade de um indivíduo. Na sua obra mais famosa, O Segundo Sexo, Simone de Beauvoir expõe esse mesmo nó de conceitos, “Nada mais errôneo do que essa confusão entre a invertida [homossexual] e a virago [mulher masculina]” (página 144). Tanto no século passado, como no XXI, esta absurda associação continua a reinar os pensamentos da raça humana, em que, utilizando o caso exemplificado no livro de Beauvoir, uma mulher que tenha uma aparência mais máscula, que seja por ter o cabelo curto ou usar gravata, é automaticamente definida como lésbica. Recorrendo ao mesmo método para desfazer o nó passado, alguém saber falar inglês não significa automaticamente que seja britânico.
            No núcleo do nó de conceitos repousa Borghese Hermafrodito de Bernini, desde o século II. Mitologicamente, esta escultura é a representação do filho de Afrodite e Hermes que sofreu uma fusão com a ninfa Salmacis, o que resultou numa figura com órgãos sexuais masculinos e curvas femininas. Apesar de não ter nada de inapropriado, a obra continua a deixar o observador intrigado, uma vez que o invulgar atrai atenções e desperta dúvidas.
O mesmo aconteceu com os três conceitos referidos previamente – sexo, sexualidade e masculinidade/feminilidade –, todavia foi a falta de conhecimento e de interesse em esclarecer essas dúvidas que causou todo o emaranhado de termos. A era da Internet chegou, agora, mais que nunca o Homem está à distância de um clique para elucidar a sua mente e se deixar de tricôs.



            Borghese Hermafrodito

Bernini
Século II
            Museu do Louvre (Galeria Borghese)