Desde de sempre, que existe na mente
humana um nó em relação à diferença entre sexo e sexualidade. Milhares de
pessoas sofreram, foram perseguidas e morreram, ao longo dos anos, porque o
Homem não foi capaz de desfazer o emaranhado de significados destes dois
termos. Não apenas por esse motivo, claro, a terrível possibilidade de o mundo
não se reger pelos seus rótulos pré-definidos, também contribuiu.
De
modo a se definirem inequivocamente, estes dois conceitos, recorreu-se à
metáfora. Por exemplo, utilizando o alfabeto: constituído por 26 letras que
sozinhas não transmitem ideia alguma, porém quando conjugadas surgem livros,
mensagens, leis… ou seja, estes 26 símbolos são somente um meio utilizado para
criar/definir algo. O mesmo se sucede com o sexo e a sexualidade, sendo o
primeiro as letras e o segundo as palavras.
No
entanto, este nó não fica apenas nestes dois termos. Dado que a questão do sexo
e sexualidade ficou compreendida, surge, agora, um novo emaranhado entre o
último referido e a masculinidade/feminilidade de um indivíduo. Na sua obra
mais famosa, O Segundo Sexo, Simone
de Beauvoir expõe esse mesmo nó de conceitos, “Nada mais errôneo do que essa
confusão entre a invertida [homossexual] e a virago [mulher masculina]” (página
144). Tanto no século passado, como no XXI, esta absurda associação continua a
reinar os pensamentos da raça humana, em que, utilizando o caso exemplificado no
livro de Beauvoir, uma mulher que tenha uma aparência mais máscula, que seja
por ter o cabelo curto ou usar gravata, é automaticamente definida como
lésbica. Recorrendo ao mesmo método para desfazer o nó passado, alguém saber
falar inglês não significa automaticamente que seja britânico.
No
núcleo do nó de conceitos repousa Borghese
Hermafrodito de Bernini, desde o século II. Mitologicamente, esta escultura
é a representação do filho de Afrodite e Hermes que sofreu uma fusão com a
ninfa Salmacis, o que resultou numa figura com órgãos sexuais masculinos e
curvas femininas. Apesar de não ter nada de inapropriado, a obra continua a
deixar o observador intrigado, uma vez que o invulgar atrai atenções e desperta
dúvidas.
O mesmo aconteceu com os
três conceitos referidos previamente – sexo, sexualidade e
masculinidade/feminilidade –, todavia foi a falta de conhecimento e de interesse
em esclarecer essas dúvidas que causou todo o emaranhado de termos. A era da Internet chegou, agora, mais que nunca o
Homem está à distância de um clique para elucidar a sua mente e se deixar de
tricôs.
Borghese Hermafrodito
Bernini
Século II
Museu do Louvre (Galeria
Borghese)
