World of
Tomorrow, é uma curta-metragem, de aproximadamente 16 minutos, de Don Hertzfeldt premiada
pelo Sundance Film Festival e nomeada para o Óscar
de melhor curta-metragem de animação em 2016.
A
história desta estranha curta-metragem de ficção científica tem
como ponto de partida o contacto entre Emily, uma criança, e Emily,
o seu clone adulto de terceira geração 227 anos no futuro, onde a
humanidade está à beira da extinção, que a contacta a fim de
recuperar uma memória há muito perdida. No entretanto, Emily-clone
explica a Emily algumas das atuais circunstâncias em que se encontra
a humanidade, trazendo-a para o futuro, 227 anos à frente. Somos assim levados numa
viagem através das memórias de Emily-clone, que conta a história
da sua vida e aconselha Emily antes de a devolver ao seu presente.
Mostrando-nos um futuro perturbador, onde a humanidade perdeu grande
parte das suas capacidades emocionais e sociais, World of Tomorrow envolve-nos num ambiente algo desconfortável. Não só o cenário
tematicamente geométrico, mas também o notável design sonoro
tratam de apoiar a narrativa de uma maneira eficaz e cativante.
Esta
é uma obra de contrastes:
- por um lado, temos uma forma simples, a animação minimalista e o aspeto geral básico em que as personagens principais são representadas por stick figures, por outro, os conceitos complexos de viagem no tempo, empatia pelo inorgânico, inteligência artificial, saudades do desconhecido, depressão, etc;
- por um lado, temos a jovem Emily, curiosa e inocente que conta “cadáveres-cadentes” enquanto Emily-clone explica que todos os humanos vão morrer em breve, por outro, Emily-clone, séria e mentalmente perturbada que diz mesmo a certa altura ter-se apaixonado por uma pedra;
- por um lado, temos o discurso dinâmico e atabalhoado de Emily, próprio de uma criança, por outro, a fala monocórdica e incessante de Emily-clone que, sem qualquer demonstração de emoção, vai contando a sua história de vida e introduzindo os complexos conceitos acima mencionados.
O
resultado destas antíteses na narrativa é, não só uma sensação
de estranheza, em que o espectador sente desconforto ao ser
confrontado com uma realidade infelizmente bastante provável – um
futuro em que uma criança de há 227 anos atrás tem uma capacidade
emocional mais desenvolvida do que a de um adulto -, mas também um
humor refrescante e bem-vindo.
Para
mim, esta curta de Don Hertzfeldt não inova no seu caráter
futurista e distópico, mas sim na justaposição de um olhar
infantil sobre toda uma panóplia de temas acerca dos quais não
existe uma opinião politicamente correta. Este grande filme pequeno
sugere-me um olhar despreocupado sobre a vida, uma certa sapiência
infantil que não deixa corromper a sua beleza com o
olhar hermético de um ser perturbado. No fundo, e posto de forma
simples, talvez o caminho para a plenitude seja adotar a postura de Emily-criança, curiosa, encontrando o que de melhor há
naquilo que a rodeia, e despreocupada em relação a coisas que
lhe são distantes e fora do seu controlo direto.
Esta
curta-metragem, como outras do mesmo realizador, são muito
características do estilo de D. Hertzfeldt, um estilo de alguém que
cedo, e com grande sucesso, encontrou a animação como um veículo para as suas ideias, um estilo muito forte na transmissão do
conteúdo.
Concluindo,
World of Tomorrow é uma obra que não nos deixa indiferentes, é
original, é cativante, tem impacto e tem coisas interessantes a
dizer.

