Hoje em dia vivemos numa sociedade individualista,
onde cada indivíduo interessa-se mais em si próprio e nas vantagens que os seus
actos podem trazer para si em vês de pensar se esses mesmos actos vão trazer
desvantagens para aqueles que o rodeiam. Para além deste individualismo com os
outros há uma separação com o natural, uma separação com nós próprios. A
questão que nos devia preocupar não é se estamos a criar um mundo em que a
interacção humana podia ser praticamente extinta, porque poderíamos dizer que
estamos bastante perto, mas sim qual é o principio deste problema e se o
conseguimos travar.
Primeiro, temos de pensar como poderá ter começado. A
resposta pode-nos ser praticamente dada em «O
Trabalho Alienado» em Manuscritos Económico Filosóficos de Karl Marx, onde
esta alienação pode ter começado quando o resultado do trabalho -o objecto de
um trabalhador ganha mais importância do que o próprio trabalhador. Esta
importância não sendo somente a nível monetário ou de reconhecimento, mas mais
importante ainda, este objecto que deveria ser uma continuidade do trabalhador
passa a ser a vida do trabalhador. Isto é, para criar tal objecto, o
trabalhador deixa de ter vida própria, este deixa de criar algo vindo do seu
trabalho para começar a trabalhar somente para mostrar trabalho.
Transportemos este acontecimento para o presente, será que a alienação do
Homem/objecto? Temos mais e mais exemplos deste fenómeno nos dias de hoje, onde
cada vez mais são as marcas que têm reconhecimento do trabalho feito por
outros. Estes outro, que nós não fazemos ideia quem são e que estão diariamente
a perder um pouco da sua vida -subjectiva e literalmente - para o nosso
benefício. Para além destas grandes marcas contribuírem para esta alienação
trabalhador/trabalho, a própria marca é alienada do seu produto, isto é, com o aumento
da hegemonia das marcas - qualquer que sejam - e com o mundo consumista em que
vivemos a mistura explosiva acontece. Estas marcas juntamente com o desejo
consumista de cada indivíduo como forma de se representar e de mostrar as suas
ideias dão cada vez mais força a este fenómeno ao contrário do que deveria ser
feito que é tentar acalmar o poder que estas marcas têm e o nível sem
precedentes que o consumismo está a trazer para a vida como a conhecemos. Estas
passam a ser mais importantes até do que o que elas representam ou qual é o seu
produto, a marca aliena-se de si mesma tornando-se quase no produto de produz.
Para exemplificar este ponto de vista basta olharmos em redor, todos temos
pelos menos algo de marca de compramos porque a marca é conhecida, não
interessa se gostamos ou não do produto desta marca, mas sim que possuímos algo
dessa marca.
Segundo, podemos travar este fenómeno? Provavelmente não,
visto que o Homem por mais individualista e alienado queira ser do resto que o
rodeia é acima de tudo um ser social que necessita de comunicar com outros e
com esta comunicação vem a vontade quase irracional de querer pertencer a algo,
e para tal, certos maneirismos vão ser sempre apropriados dos outros.
Por fim, por mais que tentamos alienar-nos daquilo que nos
rodeia vimo-nos a perceber que é praticamente um trabalho impossível fazê-lo a
100%, visto que a separação tanto física, mental, natural ou inorgânica vai
estar sempre presente no mundo do consumismo, porém neste mesmo mundo a
tentativa de apropriar algo de outrem está ao mesmo nível da alienação pessoal.
A única solução é simplesmente tentar balançar esta dicotomia de
alienar/apropriar que está presente na sociedade consumista em que vivemos.