sábado, 23 de dezembro de 2017

A alienação na apropriação

    Hoje em dia vivemos numa sociedade individualista, onde cada indivíduo interessa-se mais em si próprio e nas vantagens que os seus actos podem trazer para si em vês de pensar se esses mesmos actos vão trazer desvantagens para aqueles que o rodeiam. Para além deste individualismo com os outros há uma separação com o natural, uma separação com nós próprios. A questão que nos devia preocupar não é se estamos a criar um mundo em que a interacção humana podia ser praticamente extinta, porque poderíamos dizer que estamos bastante perto, mas sim qual é o principio deste problema e se o conseguimos travar.
    Primeiro, temos de pensar como poderá ter começado. A resposta pode-nos ser praticamente dada em «O Trabalho Alienado» em Manuscritos Económico Filosóficos de Karl Marx, onde esta alienação pode ter começado quando o resultado do trabalho -o objecto de um trabalhador ganha mais importância do que o próprio trabalhador. Esta importância não sendo somente a nível monetário ou de reconhecimento, mas mais importante ainda, este objecto que deveria ser uma continuidade do trabalhador passa a ser a vida do trabalhador. Isto é, para criar tal objecto, o trabalhador deixa de ter vida própria, este deixa de criar algo vindo do seu trabalho para começar a trabalhar somente para  mostrar trabalho. Transportemos este acontecimento para o presente, será que a alienação do Homem/objecto? Temos mais e mais exemplos deste fenómeno nos dias de hoje, onde cada vez mais são as marcas que têm reconhecimento do trabalho feito por outros. Estes outro, que nós não fazemos ideia quem são e que estão diariamente a perder um pouco da sua vida -subjectiva e literalmente - para o nosso benefício. Para além destas grandes marcas contribuírem para esta alienação trabalhador/trabalho, a própria marca é alienada do seu produto, isto é, com o aumento da hegemonia das marcas - qualquer que sejam - e com o mundo consumista em que vivemos a mistura explosiva acontece. Estas marcas juntamente com o desejo consumista de cada indivíduo como forma de se representar e de mostrar as suas ideias dão cada vez mais força a este fenómeno ao contrário do que deveria ser feito que é tentar acalmar o poder que estas marcas têm e o nível sem precedentes que o consumismo está a trazer para a vida como a conhecemos. Estas passam a ser mais importantes até do que o que elas representam ou qual é o seu produto, a marca aliena-se de si mesma tornando-se quase no produto de produz. Para exemplificar este ponto de vista basta olharmos em redor, todos temos pelos menos algo de marca de compramos porque a marca é conhecida, não interessa se gostamos ou não do produto desta marca, mas sim que possuímos algo dessa marca.
    Segundo, podemos travar este fenómeno? Provavelmente não, visto que o Homem por mais individualista e alienado queira ser do resto que o rodeia é acima de tudo um ser social que necessita de comunicar com outros e com esta comunicação vem a vontade quase irracional de querer pertencer a algo, e para tal, certos maneirismos vão ser sempre apropriados dos outros.
    Por fim, por mais que tentamos alienar-nos daquilo que nos rodeia vimo-nos a perceber que é praticamente um trabalho impossível fazê-lo a 100%, visto que a separação tanto física, mental, natural ou inorgânica vai estar sempre presente no mundo do consumismo, porém neste mesmo mundo a tentativa de apropriar algo de outrem está ao mesmo nível da alienação pessoal. A única solução é simplesmente tentar balançar esta dicotomia de alienar/apropriar que está presente na sociedade consumista em que vivemos.