“Minorias”
é uma palavra recorrente hoje em dia. Fala-se muito dos direitos das
minorias, de respeitar as minorias, de lutar pelas minorias. Mas o
que são “minorias”? Segundo o dicionário, minoria é a
“condição do que é numericamente inferior a outro”. Parece
uma definição óbvia, mas não atinge o uso que é dado a esta
palavra no discurso atual.
Ainda
no dicionário, um outro significado;
“subgrupo existente dentro de uma sociedade que se considera e/ou é
considerado diferente do grupo maior e/ou dominante, em razão de
características étnicas, religiosas, ou de língua, costumes,
nacionalidades etc, e que, por essa razão, não tem os mesmos
direitos e/ou mesmas oportunidades que o grupo maioritário, ou é
alvo de discriminação ou preconceito”. Este
sim, já se assemelha ao conceito de minorias atualmente popular.
Hoje
em dia, “minorias” são quaisquer grupos em desvantagem numérica
num determinado contexto e que, por essa razão, são vítimas de
opressão/discriminação. Daí o “viva, as minorias!”. Afinal,
queremos que todos sejam igualmente ouvidos e respeitados e não
oprimidos.
Mas
quem são as minorias? O que é que este termo implica? Quem são
estas minorias que temos de apoiar, que temos de respeitar e lutar
por? “Viva…!” a quem?
É
interessante quão vago o termo pode ser. Muitos falariam logo da
mulher como minoria em determinados contextos profissionais,
políticos, de chefia, etc... A mulher é uma minoria. A criança é
uma minoria. O paraplégico é uma minoria. O político é uma
minoria. O homossexual é uma minoria. O aluno universitário é uma
minoria. O bilionário é uma minoria. O homem é uma minoria. O
assassino em série é uma minoria. Todas estas afirmações são
verdadeiras, ou o serão em determinados contextos.
A
tendência é dar à palavra “minorias” uma conotação heroica,
pois é-nos levado a crer que “lutar pelos direitos das minorias”
é lutar pelos oprimidos, para que estes estejam em pé de igualdade
com a maioria. No entanto, “minorias”
é um termo extremamente vago só por si, o que torna preocupante
situações em que um orador recebe imediata aprovação da sua
audiência só por o mencionar.
Para
além disto, o termo
“minorias” parte do pressuposto que qualquer grupo em desvantagem
numérica será oprimido/descriminado de algum modo, e reage como tal
pondo “minorias” e “maiorias” em lados opostos e antagónicos.
Para
ilustrar, tomemos o exemplo das mulheres como minoria. Digamos, para
sermos mais específicos, que numa determinada empresa as
funcionárias são uma minoria relativamente ao número de
funcionários. A
corrente ideia
popular de “minorias” imediatamente suspeita
da situação e considera que
elas estão a ser vítimas de descriminação. Sem
entrar em quaisquer pormenores sobre o tipo de emprego, o ambiente de
trabalho, sem mencionar como é que estas mulheres estariam a ser
tratadas; só
por expor
a
sua minoria numérica assume-se
imediatamente que
estariam a ser oprimidas. Cria-se então um preconceito; “as
mulheres são uma minoria”, logo, naquela situação mais
específica serão uma “minoria” também. Serão mal-tratadas.
Tem de se lutar pelas minorias, tem de se lutar contra as maiorias. As
minorias são as oprimidas, as maiorias são os opressores. Logo,
para que as minorias tenham os seus direitos,
as maiorias têm de ser derrotadas.
Infelizmente,
existem casos de descriminação. Mas, o termo
“minorias”
declara-os a todos como casos de tal.
Numa empresa em que as funcionárias sejam uma minoria numérica,
estas podem ser respeitadas, podem ser cuidadas e ouvidas
adequadamente tal qual como os restantes colegas. A sua inferioridade
numérica não equivale a desrespeito e opressão.
A
ideia de “minorias” não só promove preconceitos como coloca
pessoas umas contra as outras pelo simples facto de pertencerem a um
grupo ou outro que numa determinada situação seriam minoria ou
maioria. Cria a ideia fictícia que para um grupo ganhar o outro tem
de perder. "Se não és da minha minoria e és maioria, então somos
forças opostas. Tenho que te suplantar, que te vencer. És o inimigo."
“Minorias”
é um termo enganador, aparentemente benigno mas propenso a criar
preconceitos e situações de hostilização entre pessoas. É
especialmente preocupante por a sua mera pronúncia gerar
automaticamente simpatia e suscitar aprovação ingénua.
Mais
que igualdade numérica ou catalogar grupos variados como vítimas
evidentes, devemos procurar a igualdade em dignidade (independente da
numérica) e identificar os casos e pessoas específicas que são
mais frágeis e
indefesas
para as podermos proteger e espalhar mensagens de apoio e
sensibilização.