domingo, 24 de dezembro de 2017

Minorias

Minorias” é uma palavra recorrente hoje em dia. Fala-se muito dos direitos das minorias, de respeitar as minorias, de lutar pelas minorias. Mas o que são “minorias”? Segundo o dicionário, minoria é a “condição do que é numericamente inferior a outro”. Parece uma definição óbvia, mas não atinge o uso que é dado a esta palavra no discurso atual.
Ainda no dicionário, um outro significado; “subgrupo existente dentro de uma sociedade que se considera e/ou é considerado diferente do grupo maior e/ou dominante, em razão de características étnicas, religiosas, ou de língua, costumes, nacionalidades etc, e que, por essa razão, não tem os mesmos direitos e/ou mesmas oportunidades que o grupo maioritário, ou é alvo de discriminação ou preconceito”. Este sim, já se assemelha ao conceito de minorias atualmente popular.
Hoje em dia, “minorias” são quaisquer grupos em desvantagem numérica num determinado contexto e que, por essa razão, são vítimas de opressão/discriminação. Daí o “viva, as minorias!”. Afinal, queremos que todos sejam igualmente ouvidos e respeitados e não oprimidos.
Mas quem são as minorias? O que é que este termo implica? Quem são estas minorias que temos de apoiar, que temos de respeitar e lutar por? “Viva…!” a quem?
É interessante quão vago o termo pode ser. Muitos falariam logo da mulher como minoria em determinados contextos profissionais, políticos, de chefia, etc... A mulher é uma minoria. A criança é uma minoria. O paraplégico é uma minoria. O político é uma minoria. O homossexual é uma minoria. O aluno universitário é uma minoria. O bilionário é uma minoria. O homem é uma minoria. O assassino em série é uma minoria. Todas estas afirmações são verdadeiras, ou o serão em determinados contextos.
A tendência é dar à palavra “minorias” uma conotação heroica, pois é-nos levado a crer que “lutar pelos direitos das minorias” é lutar pelos oprimidos, para que estes estejam em pé de igualdade com a maioria. No entanto, “minorias” é um termo extremamente vago só por si, o que torna preocupante situações em que um orador recebe imediata aprovação da sua audiência só por o mencionar.
Para além disto, o termo “minorias” parte do pressuposto que qualquer grupo em desvantagem numérica será oprimido/descriminado de algum modo, e reage como tal pondo “minorias” e “maiorias” em lados opostos e antagónicos.
Para ilustrar, tomemos o exemplo das mulheres como minoria. Digamos, para sermos mais específicos, que numa determinada empresa as funcionárias são uma minoria relativamente ao número de funcionários. A corrente ideia popular de “minorias” imediatamente suspeita da situação e considera que elas estão a ser vítimas de descriminação. Sem entrar em quaisquer pormenores sobre o tipo de emprego, o ambiente de trabalho, sem mencionar como é que estas mulheres estariam a ser tratadas; só por expor a sua minoria numérica assume-se imediatamente que estariam a ser oprimidas. Cria-se então um preconceito; “as mulheres são uma minoria”, logo, naquela situação mais específica serão uma “minoria” também. Serão mal-tratadas. Tem de se lutar pelas minorias, tem de se lutar contra as maiorias. As minorias são as oprimidas, as maiorias são os opressores. Logo, para que as minorias tenham os seus direitos, as maiorias têm de ser derrotadas.
Infelizmente, existem casos de descriminação. Mas, o termo “minorias” declara-os a todos como casos de tal. Numa empresa em que as funcionárias sejam uma minoria numérica, estas podem ser respeitadas, podem ser cuidadas e ouvidas adequadamente tal qual como os restantes colegas. A sua inferioridade numérica não equivale a desrespeito e opressão.
A ideia de “minorias” não só promove preconceitos como coloca pessoas umas contra as outras pelo simples facto de pertencerem a um grupo ou outro que numa determinada situação seriam minoria ou maioria. Cria a ideia fictícia que para um grupo ganhar o outro tem de perder. "Se não és da minha minoria e és maioria, então somos forças opostas. Tenho que te suplantar, que te vencer. És o inimigo."
Minorias” é um termo enganador, aparentemente benigno mas propenso a criar preconceitos e situações de hostilização entre pessoas. É especialmente preocupante por a sua mera pronúncia gerar automaticamente simpatia e suscitar aprovação ingénua.
Mais que igualdade numérica ou catalogar grupos variados como vítimas evidentes, devemos procurar a igualdade em dignidade (independente da numérica) e identificar os casos e pessoas específicas que são mais frágeis e indefesas para as podermos proteger e espalhar mensagens de apoio e sensibilização.