Como podemos observar, a imagem contempla duas
meninas que sorriem e se abraçam. Em seguida, percecionamos que uma das
crianças é branca e que a outra é negra. Posteriormente, o nosso olhar
desloca-se para os cachos doirados da menina branca e para as ondulações que
lembram chifres da menina negra. Depois do olhar, vem a interpretação e,
vemos “o abraço”, símbolo da amizade em que os estereótipos sociais se
diluem. O abraço, supostamente
pretende passar a ideia do combate à segregação, de que somos “todos diferentes,
todos iguais”. Olhamos novamente, e vemos que a “menina de cachos loiros” simboliza
um anjo e que a “menina com ondulações no cabelo que parecem chifres”
representa o diabo. Estamos
perante a dicotomia entre o bem e o mal simbolizada pela figura angelical e pela
figura diabólica, a denúncia de um arquétipo social alicerçado em
pressupostos de positivação da pele branca e da negativização da pele negra,
ou, como diria Barthes, a perpetuação de um modelo em que os meios de
comunicação de massa agem pela reafirmação do status quo defendido
pela classe dominante? Segundo Roland Barthes, o
objeto artístico, a obra deve ser entendida como mecanismo produtor de sentido.
Da mesma forma, na publicidade a significação da imagem é sempre intencional.
À primeira vista esta mensagem
publicitária parece-nos denunciar preconceitos sociais de uma forma
absolutamente sincera, honesta e real, mas será este o seu verdadeiro
significado? Apenas na sua des-construção
e no reconhecimento de conceitos implicados na imagem fabricada por
Oliviero Toscani, fotógrafo e publicitário da marca, e disseminada nos meios
de comunicação, se além da provocação e da dramaticidade, as imagens
denunciam e com isto convocam a consciência ou se a fotografia possui um
carácter manipulador da opinião pública a favor dos interesses da classe que
defende a conservação do mundo, a sua mitificação?
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