sábado, 23 de dezembro de 2017

Práxis transformadora do mundo e libertação do homem versus alienação

A palavra alienação tem várias conotações, é um conceito de forte polissemia,
conduzindo-nos por caminhos que nem sempre vão na mesma direção. A discussão
deste conceito atravessa diferentes perspetivas filosóficas que passam por Rosseau,
Kant, Hegel, Feuerbach, entre outras.

No entanto, pela sua pertinência e atualidade, decidi centrar-me na conceção
marxiana de alienação económica, analisada quer relativamente ao produto do
trabalho, ao próprio processo de produção, à existência do indivíduo enquanto
membro do género humano e em relação aos outros indivíduos. Há a referir que esta
conceção não pode ser despojada da crítica demolidora de Marx à alienação política,
religiosa e filosófica já que o seu objetivo assenta numa práxis transformadora do
mundo e na libertação do homem.

Ao nos confrontarmos com o que acontece no nosso quotidiano e que se reflete em
notícias tais como “Presidente da República promulga aumento do salário mínimo para
580 euros ”1 , “Patrões indisponíveis para aumentar salário mínimo para 600 euros em
2018” 2 e “Nos salários não se reflete que somos EDP, só a nível do trabalho
porque damos a voz e a cara por esta empresa todos os dias há mais de 25
anos” 3 , percebemos efetiva e objetivamente o conceito de alienação político-
económico de Karl Marx. O ser humano é desapossado dos meios de produção e
durante toda a sua vida o trabalhador vê-se obrigado a lutar quer pela manutenção de
suas necessidades básicas físico-corpóreas, quer por se manter empregado de
alguém que possua os meios de produção (capitalista) e assim possa satisfazer as
suas necessidades. O processo é cíclico e leva a desumanização do ser humano. Ao
invés de se sentir realizado. a exteriorização do trabalho, em que o valor do trabalho e
o salário recebido pelo trabalhador denota uma desigualdade, torna-se sinónimo de
sacrifício. Por outras palavras, o trabalho é desvalorizado e reflete a diferença entre o
valor produzido pelo trabalho e o salário pago ao trabalhador (mais-valia capitalista).

O conceito de alienação económica é o mais importante na teoria marxiana, embora
difícil de delimitar no seu complexo de significados, pressupõe a alienação do
trabalhador relativamente ao produto da sua atividade em virtude das relações
capitalistas de propriedade e da alienação do próprio ato de produção. A alienação
económica é a base determinante de todas as outras formas de alienação e tem por

base a propriedade privada dos meios de produção. Somente a rejeição destas
formas sociais que negam a realização humana, em que o homem se encontra imerso
num trabalho pervertido alienado, abre a possibilidade a que todo ser humano possa
ter livre acesso aos meios de produção é que poderemos perspetivar a libertação do
homem na sua reconciliação com a natureza.

Referências:
Marx, Karl. Manuscritos Económico-Filosóficos. Lisboa, 2017, Edições 70
1 (http://www.publico.pt/2017/12/22/politica/noticia/presidente-da- republica-promulga-
aumento-do- salario-minimo- para-580- euros-1797025)
2 (https://sol.sapo.pt/artigo/589577/patroes-indisponiveis- para-aumentar- salario-minimo-
para-600- euros-em- 2018)
3 (http://www.tvi24.iol.pt/economia/04-11- 2017/sindicato-estima- adesao-de- 95-a- greve-
dos-trabalhadores- da-randstad- em-servico- na-edp)