Cada vez mais damos
menos importância ao que dizemos. Desaprendemos de ouvir e passámos a falar
demais. Dizemos tudo: o que queremos, o que não queremos, o que devíamos e o
que não devíamos. Cada vez mais se sente que o ser humano perdeu a sua noção do
mundo que o rodeia. Vivemos numa fase em que todos nós lutamos por um momento
só nosso, um momento em que só nós existamos no mundo para além de todas as
outras pessoas, que chega a tornar-se um pedido de socorro, um desespero por
atenção que muitos não sabem explicar.
Passámos a olhar apenas
para nós próprios e para o que nós necessitamos e queremos, sem dar qualquer
importância ao que e a quem nos rodeia. Volta a emergir a ideia do egocentrismo
e do materialismo, que apesar de parecerem temas distintos, têm bastante a ver
um com o outro. Temos o exemplo da época natalícia: cada vez mais damos menos
importância ao real significado do Natal – preocupamo-nos mais com as prendas
que vamos receber do que com as pessoas com quem vamos passar esta quadra.
É assim que podemos ver
o quanto o ser humano deixou de saber viver em comunidade, passando-se a
preocupar cada vez mais consigo mesmo e com as suas posses materiais, do que
com as relações que temos com as outras pessoas. Passámos a desvalorizar os
outros como se só nós existíssemos no mundo.
E a verdadeira questão é, se fossemos realmente só nós neste mundo: conseguiriam todas as coisas materiais que possuímos dar lugar às pessoas que não conhecemos e abafar a solidão que sentiríamos?
