Apesar de há já bastante tempo
ocorrer este fenómeno, hoje em dia cada vez mais pessoas admitem não se
identificar com o binário “Homem:Mulher” e, consequentemente, com o binário
“Ele:Ela”. Dentro desta categoria de Não-Binário, existem ainda várias
“sub-categorias”, tais como Agénero, Género Fluído, Gender Queer, entre
bastantes outros.
A crescente aceitação destes novos
géneros não deveria ser um processo difícil na evolução da nossa sociedade, e
da humanidade em geral, mas, tal não está a acontecer. O culpado deste entrave?
A nossa própria linguagem.
Tendo em conta o caso das línguas
românticas, entre as quais o Português, todas as palavras do nosso vocabulário
têm que se conformar com o binário “Masculino:Feminino”. Para objetos inanimados
ou animais irracionais, é fácil aplicar este sistema, já que eles (na sua
maioria) não possuem um nível de consciência que lhes permite ter consciência
do seu próprio ser e, por tal, nem se conseguem queixar. Os seres humanos, pelo
contrário, têm bastante consciência de si próprios; ou seja, através de uma
mera introspeção conseguem saber tudo sobre si mesmos. E, acontece que certos
indivíduos na nossa sociedade não se consideram nem homem nem mulher. Para
“tornar pior a situação”, o facto de nós darmos nomes e palavras específicas
para certas coisas serve para lhes dar significado; o que acontece quando,
literalmente, não há uma palavra que nos defina? Somos excluídos.
Grande parte deste problema também
advém da nossa cultura ocidental na qual predominam as religiões abraâmicas,
nas quais os seres humanos foram estritamente criados como Homem e Mulher,
todos aqueles que demonstravam sair fora deste molde serem considerados
criaturas do mal e o próprio Deus, apesar de ser descrito como “sem forma”, é chamado
de “Pai” e “Senhor”, é considerado um ser masculino.
Pelo contrário, noutras religiões,
este estigma de não ser binário não está tão patente ou até mesmo presente,
sendo aceite e incorporado na própria crença, como são exemplo vários deuses da
religião Hindu.
Para arranjar solução para esta
situação, há que mudar a nossa maneira de falar para conseguir mudar a nossa
maneira de pensar. Há que arranjar um novo tipo de palavras que sirvam para
identificar todos os indivíduos não-binários. Há que torná-los visíveis. Há que
torná-los parte, de uma vez por todas, da nossa sociedade.