domingo, 24 de dezembro de 2017

Nós, Vós, Elxs

   Apesar de há já bastante tempo ocorrer este fenómeno, hoje em dia cada vez mais pessoas admitem não se identificar com o binário “Homem:Mulher” e, consequentemente, com o binário “Ele:Ela”. Dentro desta categoria de Não-Binário, existem ainda várias “sub-categorias”, tais como Agénero, Género Fluído, Gender Queer, entre bastantes outros.
   A crescente aceitação destes novos géneros não deveria ser um processo difícil na evolução da nossa sociedade, e da humanidade em geral, mas, tal não está a acontecer. O culpado deste entrave? A nossa própria linguagem.
   Tendo em conta o caso das línguas românticas, entre as quais o Português, todas as palavras do nosso vocabulário têm que se conformar com o binário “Masculino:Feminino”. Para objetos inanimados ou animais irracionais, é fácil aplicar este sistema, já que eles (na sua maioria) não possuem um nível de consciência que lhes permite ter consciência do seu próprio ser e, por tal, nem se conseguem queixar.  Os seres humanos, pelo contrário, têm bastante consciência de si próprios; ou seja, através de uma mera introspeção conseguem saber tudo sobre si mesmos. E, acontece que certos indivíduos na nossa sociedade não se consideram nem homem nem mulher. Para “tornar pior a situação”, o facto de nós darmos nomes e palavras específicas para certas coisas serve para lhes dar significado; o que acontece quando, literalmente, não há uma palavra que nos defina? Somos excluídos.
   Grande parte deste problema também advém da nossa cultura ocidental na qual predominam as religiões abraâmicas, nas quais os seres humanos foram estritamente criados como Homem e Mulher, todos aqueles que demonstravam sair fora deste molde serem considerados criaturas do mal e o próprio Deus, apesar de ser descrito como “sem forma”, é chamado de “Pai” e “Senhor”, é considerado um ser masculino.
   Pelo contrário, noutras religiões, este estigma de não ser binário não está tão patente ou até mesmo presente, sendo aceite e incorporado na própria crença, como são exemplo vários deuses da religião Hindu.

   Para arranjar solução para esta situação, há que mudar a nossa maneira de falar para conseguir mudar a nossa maneira de pensar. Há que arranjar um novo tipo de palavras que sirvam para identificar todos os indivíduos não-binários. Há que torná-los visíveis. Há que torná-los parte, de uma vez por todas, da nossa sociedade.