Esta entrada tem como intuito principal, uma reflexão relativa à compreensão da sociedade moderna aos olhos de Guy Debord, bem como a desconstrução de casos práticos da vida quotidiana, de forma a encontrar um paralismo sólido que levará a uma melhor compreensão da sua perspectiva. Guy Debord expõe de uma forma bastante concisa e pragmática as suas ideias em ‘A sociedade do espectáculo’, que eu utilizei como principal referência.
Dentro das várias temáticas do livro, vou abordar a forma como os media atuam sobre a sociedade, causando a alienação/manipulação do consumidor.
Segundo Debord, a sociedade do espetáculo, através das imagens transmitidas pelos media, manipula o observador a crer numa necessidade de consumo falaciosa, apenas por razões de benefício económico. Deste modo, entende-se que o espetáculo se constitui a partir de uma realidade criada unicamente para os seus efeitos, tendo como consequência o estabelecimento de necessidades falaciosas, que aliciam o consumidor. Esta manipulação é cíclica e atua a partir da constante reformulação de imagens. Debord expõe também uma forte crítica ao espetáculo como resultado dos modos de produção existentes e como forma de afirmação das escolhas feitas a nível da produção. Para o autor, é concreto que o espetáculo atua a favor do capitalismo - o consumo não-ponderado é, portanto, uma consequência desta situação.
A alienação do espectador é um ponto que é reforçado pelo autor repetidamente ao longo da sua obra: “ A alienação do espectador em favor do objeto contemplado (o que resulta da sua própria atividade inconsciente) expressa-se assim: quanto mais este contempla, menos vive; quanto mais aceita reconhecer-se nas imagens dominantes da necessidade, menos compreende a sua própria existência e o seu próprio desejo. Em relação ao Homem que age, a superficialidade do espetáculo surge no facto dos seus próprios gestos já não serem seus, mas de um outro que os representa por ele.” Como tal, a alienação leva ao consumo de algo, não pelo valor real, mas pelo que o produto aparenta ser: um valor superficial e distorcido da realidade. Por isso, se o espectáculo alimenta o crescimento da economia (sendo o lucro o fim primordial), sustenta também o aumento da alienação. Mediante estes termos, a consciência humana torna-se submissa, enquanto o espetáculo desvincula o espectador do modo de pensar e agir.
O estatuto social associado a produtos de marca pode não ser associado ao seu valor funcional, estético, etc. Daí conseguirmos encontrar uma enorme discrepância de preços entre artigos aparentemente iguais. O facto de existir algum tipo de reconhecimento a determinado produto, mesmo que falacioso, consegue torná-lo um símbolo de estatuto social e apenas por essa razão ele ganhará valor a nível monetário. Os media são um fator bastante importante, porque é a partir da distribuição de informação para as massas que este reconhecimento empírico consegue surgir. Uma realidade falaciosa pode ser promovida, sendo que a atitude passiva dos indivíduos a irá perpetuar. Realidade esta, que quando aplicada a determinados produtos, lhes poderá trazer um destaque e reconhecimento ampliado, numa sociedade alienada que terá todo o gosto em os consumir.