Existem duas formas do ser humano individual
caracterizar um acontecimento como natural:
- Aquilo que teve origem na base da vida humana, que é
universal e independente da cultura, aquilo que se estende para além da
existência física própria;
- Aquilo que
sempre foi hábito desde que envolveu no mundo, que é familiar e convencional,
portanto esta forma de interpretação é subjectiva e arbitrária pois depende do
contexto em que nasceu.
No primeiro caso, e numa análise externa do
"eu" ao que é natural, existem todas as coisas que nasceram de um
instinto, vindas do homo sapiens que
como primeiro ser racional desenvolve a capacidade de encontrar soluções para
necessidades físicas e responder a necessidades interiores - a música e a arte
como formas de expressão.
No segundo caso, e agora de um ponto de vista pessoal, existe
uma oposição - a sociedade de hoje, existem os acontecimentos “naturais” embora muito pouco puros da natureza humana. Estes acontecimentos existem
correntemente numa cultura “impingida” de manipulação e controlo. Como
exemplo, apresento um episódio trivial do quotidiano: uma ida ao supermercado.
O “eu” torna-se num agente alvo e vive a atmosfera envolvente através de todos
os sentidos, esta atmosfera é falaciosa e persuasiva. Porque é que isto
acontece? Entra, instantaneamente, na bolha gigante que é a sociedade de
propaganda e de consumo.
O indivíduo passa da subsistência para a complexidade da
existência através de uma linha comprida, ao longo desta linha foram sendo
acrescentadas novas ofertas que melhoravam a sua existência, como o novo creme
para borbulhas ou o novo produto para o cabelo, na prateleira do supermercado.
Estes produtos nascem de empresas que pretendem lucrar e que manipulam e
influenciam o público-alvo com publicidade enganosa. As empresas crescem e,
como pouco interessa a qualidade para quem vende, os seus produtos tomam lugar
nas prateleiras que estão facilmente ao alcance dos olhos do comprador, para
além de se destacarem com cores bonitas e com anúncios e publicidades
“engraçadas”.
Uma ida ao
supermercado é um acontecimento estipulado e mecânico, em que o indivíduo
compra coisas que não precisa e muitas vezes (inconscientemente) participa nos
testes das empresas, é enganado. Perde o interesse na descoberta do interior
pessoal e vive numa sociedade que se deixou levar pela conformidade.