| Ilustração por Quino |
Temos que criar uma fortaleza à volta deles. Eu chamo-lhe confiança. Sim, confiança no nosso aspeto, personalidade, crenças, ideias, enfim, confiança em nós próprios. Se é fácil? Fazer um cavalo voar parece tarefa leve comparada com o processo de formatar o nosso cérebro para pensar de maneira diferente. Não, não é nada fácil. Passar a dar importância ao que realmente importa não é missão simples. Se gostamos do nosso cabelo encaracolado e não o liso comum, usamos, se gostamos das roupas fora de moda e não do casaco da última tendência, usamos, se gostamos do corte de cabelo invulgar e não do escadeado que toda a gente tem, usamos, se a maioria prefere o partido A, mas identificamo-nos mais com o B, somos do B, se gostamos de música alternativa e não da comercial, ouvimos alternativa, se achamos que dizer elogios só por dizer é superficial, não dizemos, se temos uma crença que não é a mais popular, dizemos que acreditamos na mesma, se achamos que seguir o comum é fútil, não seguimos e isso não nos afeta, porque temos confiança em nós próprios. É desse tipo de segurança que falo, a que substitui a insegurança.
Os experientes dizem que com o tempo a pessoa amadurece e ganha essa confiança sobre si própria. Que isso é uma preocupação juvenil. Eu acredito. Tenho que acreditar, estes sentimentos não podem durar para sempre. Ninguém aguenta. Então espero, ansiosa, um dia ganhar essa confiança para ser quem sou numa sociedade conservadora que está sempre pronta para apontar o dedo. Seja por obra e graça do Espírito Santo ou porque trabalhei mentalmente para isso. Enquanto esse dia não chega vou registando o que me dizem: “Não ligues às más bocas”, “Ninguém vai pensar mal de ti se levares isso” ou “Ah não, não devem ter ficado chateados”, os clichês dos consolos. Mas eu não julgo a falta de originalidade para animar uma pessoa. Eu própria não sei qual a receita correta.
Por fim, não é nada fácil viver neste séc.XXI e creio que também não será nos seguintes, onde o que hoje vemos, amanhã já não existe. Por isso mais vale aceitarmos quem somos e aprender a ter amor próprio.
“Cuida do teu coração porque é daí que jorra a vida.”