Era da globalização – onde se pode fazer uma
videochamada com o primo do Canadá, enquanto se envia um e-mail à tia da
Nova-Zelândia, se fala com a irmão que foi visitar Barcelona e, ainda, se ouvem
as notícias sobre a grande catástrofe natural que é o ser humano; tudo isto, confortavelmente
sentado no sofá. A volta ao mundo em muito menos de 80 dias chegou para todas
as culturas e as suas ideologias, de braço dado vieram as consequências dessa
desenfreada globalização.
Um desses efeitos é o puré de ideologias em que o
mundo está a ficar, como explicam Karl Marx e Friedrich Engels, 1932/1976, em A Ideologia Alemã, vol. I, (pág. 26) –
“…a moral, (…), e qualquer outra ideologia, tal como as formas de consciência
que lhes correspondem, perdem imediatamente toda a aparência de autonomia. Não
têm história, não têm desenvolvimento; serão antes os homens que, (…),
transformam, com esta realidade que lhes é própria, o seu pensamento e os
produtos desse pensamento.” Essa tal Internet
largou uma chuvada de ideias e ideais em cima do planeta, cada um mais correto
e certo que o anterior, e ‘seja o que Deus quiser’. Consequentemente, o que
observo na minha faixa etária, os denominados adolescentes, existe uma completa,
total e despreocupada rutura entre eles e as, agora pequenas, tradições mais
portuguesas, que correm nas veias deste povo há várias gerações, algo tão
simples como pedir “pão por Deus” no dia de Todos-os-Santos, ou cantar as
Janeiras. São estes pequenos pormenores que contam a história do nosso país. (Não
estou a criticar, isto é apenas o caminho para chegar ao que verdadeiramente me
incomoda.) Conclui-se, assim, que por trás de cada tradição está, então, parte
da história de Portugal.
Agora, o que tenho vindo a notar cada vez mais é que
essa história não se conhece e as opiniões são formadas, ideologias são criadas
com base numa ausência de informação e incultura assustadoras. A maior prova da
sua presença é a maior ferida de Portugal onde os dedos de ninguém podem ousar
chegar perto, sem que o país grite de dor - as touradas. (Relembro que me
refiro à faixa etária que me é mais familiar). São um tema cada vez mais
polémico, e sobre o qual parece impossível ter-se uma discussão civilizada, não
só por causa da velocidade a que os ânimos se exaltam, mas porque o
conhecimento histórico por detrás delas que as pessoas, atualmente, possuem é
pouco ou nenhum. De qualquer maneira, consideram-se, completa e perfeitamente
aptas a opinar, criando uma nova ideologia que tem como base a inexistência da
informação. Desta forma, posso apenas desejar que contra ou favor essas ideias
sejam fundamentadas, porque os gostos podem, e devem sempre discutir-se.
Assim, resta-me, apenas, esperar que com toda esta
globalização o meu país não perca por completo a sua identidade única...