Cada um de nós, desde os primeiros momentos de vida, está programado para refletir os movimentos, sons e interações dos elementos alheios. Por norma, o que está mais presente no início das nossas vidas são outros seres humanos, sejam família, amigos ou figurantes do nosso quotidiano. Logo, o nosso primeiro alvo de imitação serão, à partida, essas mesmas pessoas. Começando com simples palavras ou gestos, inicia-se o longo e detalhado processo de imitação que é a nossa vivência de aprendizagem social e intelectual.
Desde que o seu humano começou a descobrir o seu lado criativo e inovador, as modas têm sido sempre algo recorrente. Este aspeto pode verificar-se em diversas matérias (para não dizer infinitas) tais como a arquitectura, o desenho, a pintura, a música, o vestuário, até a própria linguagem. Por exemplo, na arquitectura os movimentos arquitectónicos - do românico à arquitectura moderna -, na pintura - do realismo ao abstracto. Ou seja, assume-se um certo cânone e repete-se até aparecer algo ou alguém que rompe com a norma e dá início a um novo estilo.
Duma perspetiva mais pessoal e íntima, eu reconheço uma boa obra de arte quando esta se aparenta natural e não forçada. Quando todas as modas e costumes se desvanecem e se quebram, ofuscadas pela realidade que o artista imaginou. A genuinidade prevalece sobre sobre qualquer distorção artística forçada por parte do indivíduo em questão. Em poucas palavras, se o que o artista criar partir do seu interior mais autêntico e inalterado, essa será a verdadeira obra de arte.
No texto "O novo Citroen" do livro "Mitologias" escrito por Roland Barthes, este fala do impacto gerado pelo Citroen DS lançado em 1955 cujas linhas e formas eram absolutamente únicas e revolucionárias para a época. As pessoas estavam habituadas a que os carros tivessem ângulos acentuados, quase como se fossem compostos por caixas metálicas e por isso, a marca do trabalho do ser humano está la bem evidente. Este carro, no entanto, apresentava uma suavidade tal que era impossível passar despercebido. Quem o desenhou, tinha uma realidade em vista e não olhou a outras normas e costumes na indústria automóvel, enfrentando todos os preconceitos e habituações. O seu nome (DS) significa "Déesse" que do francês se traduz para "Deusa". Ou seja, as suas linhas aparentam ser tão naturais que é quase algo que transcende o ser humano e as suas capacidades.
É isto mesmo que nós nos devemos obrigar a fazer. Por mais que caiamos no cliché de dizer que devemos seguir os nossos instintos, é esse o caminho a seguir se queremos realmente fazer a diferença e provocar um impacto honesto e bruto. Não ir dentro do caminho mas sim abrir caminho.