quinta-feira, 28 de dezembro de 2017

A Arte e a Massificação

        Creio ser claro que existe algum conflito entre aquilo que podemos, ou devemos, ou não chamar de arte. Será um objeto apenas sempre um objecto? Será um trabalho artístico sempre considerado arte? 
É conflituosa a ideia de que algo que é massificado possa ter em si criação artista, mas o Citroen de Barthes é o exemplo perfeito disso. Um carro é sempre algo criado com algum intuito estético, um carro puramente funcional é algo com muito pouco interesse. Porque não podemos então considerar um carro uma obra de arte e não apenas um objeto? A criação de um carro envolve todo um grande processo criativo, aliando técnica e ciência com estética. O artista, ou artistas, vê todo o seu processo criativo ser ignorado e mascarado pela industrialização e massificação do automóvel. 
Quando falamos do Citroen podemos falar de inúmeros casos. O espremedor de Starck é algo com um intuito prático, funcional, mas é no entanto algo com um alto conteúdo estético, algo com um grande trabalho de criação artística. Será que se fizermos 10000 espremedores deixam de ter esse contudo artístico? Será que perde o seu valor? Talvez perca o impacto, concordo, como aconteceria com qualquer outro objeto, se tivermos apenas um exemplar esse exemplar torna-se especial por ser o único. Mas todo o processo de criação artística, tudo isso continua lá, havendo um ou vários exemplares.
Uma cadeira será sempre apenas uma cadeira? Não valorizamos a ligação entre estética e ergonomia apenas porque a cadeira tem um uso prático? Uma cadeira artesanal feita pelo artesão, o artista, perde assim todo o seu elemento artístico porque é só uma cadeira. Porque nos sentamos na cadeira, e todos sabemos que não se pode sentar em cima de arte.