RESISTÊNCIA E RE-AÇÃO
«A Arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à
infâmia, à vergonha.» (G. Deleuze)
A definição de resistência que
os dicionários nos fornecem, no sentido lato do termo, é a de «força, por meio
da qual um corpo reage contra a ação de outro corpo». Quem diz corpo, diz
ideia, porque «de tudo o mesmo se diz», como se lê num verso do belíssimo poema
de António Gedeão, «Impressão digital».
Ao conceito
linguístico-filosófico de resistência associa-se a noção de oposição e,
consequentemente, a da inevitável (forçosa) confrontação,
porque a defesa contra o ataque é já uma forma de ataque. Muitos são os
adjetivos que podemos colar ao conceito de resistência, para lhe delimitar o âmbito
de significação: a resistência física, necessária aos desportistas e militares;
a resistência psicológica, a traumas ou manifestações de violência não física;
a resistência social e política, a regimes ditatoriais, a formas de injustiça, ou
aos direitos das minorias. Esta modalidade de resistência pode tomar uma feição
individual ou de grupo e, quando coletiva, pode configurar-se como luta armada
ou movimento pacifista. A Amnistia Internacional e o Greenpeace são exemplos emblemáticos de movimentos coletivos de
resistência não armada, com objetivos pacifistas de defesa do ambiente e dos
direitos humanos.
Há, ainda, a resistência à
mudança, tipicamente tradicionalista e conservadora, que Camões deixou
personificada n’ Os Lusíadas, na
figuração do Velho do Restelo, a qual, levada a extremos, conduz às atuais formulações
fundamentalistas. E há, em contraponto, a resistência ao status quo (ao estado das coisas tal como são e tal como estão), de
que as vanguardas artísticas são exemplo e lição. Neste caso exemplar (confirmando
o cariz contraditório do conceito de resistência já apontado), talvez se
pudesse mesmo afirmar que quem age são as vanguardas artísticas e quem resiste é
o status quo.
Como se fossem
duas faces da mesma moeda, à resistência liga-se a re-ação. Qualquer que seja o
sentido restrito a que nos apeguemos, resistir é sempre reagir.
Módulo 1: 2º post
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