domingo, 31 de dezembro de 2017

RESISTÊNCIA E RE-AÇÃO

RESISTÊNCIA E RE-AÇÃO

«A Arte é o que resiste: ela resiste à morte, à servidão, à infâmia, à vergonha.» (G. Deleuze)

A definição de resistência que os dicionários nos fornecem, no sentido lato do termo, é a de «força, por meio da qual um corpo reage contra a ação de outro corpo». Quem diz corpo, diz ideia, porque «de tudo o mesmo se diz», como se lê num verso do belíssimo poema de António Gedeão, «Impressão digital».
Ao conceito linguístico-filosófico de resistência associa-se a noção de oposição e, consequentemente, a da inevitável (forçosa) confrontação, porque a defesa contra o ataque é já uma forma de ataque. Muitos são os adjetivos que podemos colar ao conceito de resistência, para lhe delimitar o âmbito de significação: a resistência física, necessária aos desportistas e militares; a resistência psicológica, a traumas ou manifestações de violência não física; a resistência social e política, a regimes ditatoriais, a formas de injustiça, ou aos direitos das minorias. Esta modalidade de resistência pode tomar uma feição individual ou de grupo e, quando coletiva, pode configurar-se como luta armada ou movimento pacifista. A Amnistia Internacional e o Greenpeace são exemplos emblemáticos de movimentos coletivos de resistência não armada, com objetivos pacifistas de defesa do ambiente e dos direitos humanos. 
Há, ainda, a resistência à mudança, tipicamente tradicionalista e conservadora, que Camões deixou personificada n’ Os Lusíadas, na figuração do Velho do Restelo, a qual, levada a extremos, conduz às atuais formulações fundamentalistas. E há, em contraponto, a resistência ao status quo (ao estado das coisas tal como são e tal como estão), de que as vanguardas artísticas são exemplo e lição. Neste caso exemplar (confirmando o cariz contraditório do conceito de resistência já apontado), talvez se pudesse mesmo afirmar que quem age são as vanguardas artísticas e quem resiste é o status quo.

            Como se fossem duas faces da mesma moeda, à resistência liga-se a re-ação. Qualquer que seja o sentido restrito a que nos apeguemos, resistir é sempre reagir. 
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