No filme de 1926 “Faust” de F.W. Murnau que vi a há umas semanas, o protagonista epónimo, ao ficar desiludido e furibundo com as suas falhadas tentativas de curar a peste demónica que cobre a sua aldeia, atira os seus inúmeros tomos para as labaredas da sua lareira.
Fez me pensar em algo, a essência da escrita como forma de arquivar conhecimento.
Afinal, os livros de Fausto continham nada mais do que riscas de tinta em papel, um conceito tão vago que não significaria nada para quem não tenho sido educado para pensar que estes e outros símbolos arbitrários significam conceitos e ideais do mundo real, contidas nestes molhos de folhas.
Ao queimar os livros Fausto efetivamente não provoca nenhuma mudança em nada, não destrói nada de real e a informação “contida” nos livros ainda está nas mentes de quem a sabe, mas neste ato Fausto destrói a sua hipótese de vir a saber e conhecer centenas de factos e filosofias, ao simplesmente queimar papel.
Entre as volumes de enciclopédias e calhamaços na lareira também se encontra a Bíblia, certamente a coleção de folhas estampadas mais influêncial da história, que arde tão bem como qualquer outro dos livros sendo de nenhuma forma diferente, exceto na ordem dos seus caractéres.