Dentro das tradições a que
nos habituámos todos os anos, como os convívios com a família e amigos, as
festas dançantes, os brindes, os jantares requintados, a vontade de mudar,
destaca-se, na minha opinião, uma que me leva a refletir sobre a essência do
ser humano: os dozes desejos representados pelas doze passas.
São vários os desejos em comum
que se repetem anualmente em pensamento e que raramente se exteriorizam e se
concretizam. “Desejo ter saúde; Desejo encontrar o amor; Desejo ser feliz;
Desejo ganhar o euromilhões; Desejo emagrecer; Desejo fazer mais exercício físico;
Desejo engravidar; Desejo arranjar trabalho; Desejo viajar mais; Desejo passar
mais tempo com a família; Desejo manter o meu emprego; Desejo ser célebre...“.
365 dias depois, ou 366 se
o ano for bissexto, chegamos à conclusão de que, afinal o que desejámos não se
realizou. Porquê? Porque um desejo não é um objetivo para o qual, através de
uma estratégia ou de um plano de ação, se delimitam metas. Assim, desejar algo
não é suficiente para conquistar algo. Sem vontade própria, sem uma intenção,
torna-se difícil acreditar que o que sonhámos se torne realidade. Na contagem
decrescente para o novo ano que se avizinha, as emoções encontram-se à flor da
pele e acreditamos que, por cada passa que comemos, temos direito a um novo desejo.
Sentimos que é desta que vamos finalmente alcançar o que queremos e que o
universo se encontra alinhado a nosso favor. Todavia, o ser humano esquece-se
ou acomoda-se à ideia que construiu mentalmente, ignorando que nada se consegue
sem esforço.
Este ritual, que
partilhamos com os nossos familiares e amigos, ou não, em todas as passagens de
ano quando se aproxima a meia noite e nos apercebemos de que ainda temos alguns
segundos para elaborar a nossa pequena, mas tão esperada, lista, marca a
distância entre a utopia e a realidade. Esta só será possível materializar-se
se o indivíduo fizer, arriscar, errar, corrigir, cair, levantar-se e seguir em
frente. Se não agir não conquista e é esta a lacuna que persiste na essência do
ser humano.
Por um lado, o homem quer
mudar, quer celebrar a vida, quer ser feliz; por outro lado, o homem mantém a mesma
atitude pessimista e inconformada com a vida e, por isso, não pode ambicionar que
o ano seguinte seja diferente.
Portanto, vamos iniciar o
novo ano com uma atitude (mais) positiva, corrigindo os nossos erros,
esquecendo os nossos fracassos e as nossas memórias mais tristes, seguindo em
frente e valorizando tudo o que já conquistámos.