segunda-feira, 1 de janeiro de 2018

A Indústria Cultural como inimiga da Arte

Após uma leitura e análise das perspetivas de Adorno e Horkheimer sobre a indústria cultural e os seus efeitos na sociedade e nos consumidores, é possível chegar-se a uma conclusão bastante evidente: no séc. XXI, com a produção em massa e o monopólio das grandes corporações e marcas sobre a população a nível mundial, criar algo novo, cru, provido de real valor intelectual trona-se quase impossível.
Todas as áreas artísticas foram, ao longo do tempo, sistematizando-se e baseando-se em tropes eficazes, alterando-se o supérfluo, a aparência, mas mantendo-se na raiz essas ideias-chave já há muitos anos criadas e demonstradas como apelativas.
Filmes e filmes que repetem cliché atrás de cliché – desde o plot às personagens-tipo – continuam a atrair multidões e a encher salas mundialmente, e o público não se apercebe de que está a ver o mesmo filme que já foi feito há 50 anos, a ler o mesmo livro, a ouvir a mesma música com os mesmos acordes mas tocados de uma forma ligeiramente diferente…
Dando a ilusão de que é algo fresco e diferente, os consumidores são levados a acreditar que estão, de facto, a trabalhar-se intelectual e culturalmente, quando na verdade estão a ser bombardeados vezes e vezes sem conta pelas mesmas premissas, pelas mesmas “criações”; o que faz com que aquilo que realmente foge à norma e inova nos seja estranho e, muitas vezes, nos passe despercebido por não ser publicitado.
Com todo o alcance tecnológico e a livre circulação de informação que se experiencia hoje na maior parte do globo, produzir arte é extremamente difícil. Temos anos e anos de criação, de exploração, de inovação e, consequentemente, fugir ao plágio e ao cliché torna-se numa adversidade por diversos motivos, sendo um dos principais o facto de, frequentemente, não fornecer ao artista qualquer tipo de segurança financeira.
Repetem-se os esquemas já feitos porque esses esquemas funcionam: seduzem o público e fazem-no comprar – movem o capital que, por sua vez, é o que move o mundo. Ou seja, fugir ao sistema e realmente criar um filme independente, um novo estilo de escrita, uma nova forma de compor musicalmente acaba por ser, metaforicamente, uma cobra que come o próprio rabo.
Se o sistema é um sistema capitalista, o artista, tal como qualquer outro cidadão e trabalhador, necessita de dinheiro para garantir a sua sobrevivência. A pseudo-criação baseada em standards atrai mais público, logo é o meio que produz, efetivamente, mais dinheiro. Em suma, por muito que o artista queira criar livremente e livrar-se desses standards, não vender a sua arte pode significar não ter um teto ou uma refeição.