Na penumbra
de
Augusto Brázio
Galeria
das Salgadeiras
25 de Novembro a 27 de Janeiro de 2018
Em Na
penumbra, Augusto Brázio propõe-nos uma visita pelo seu trabalho
fotográfico, partindo da poesia de António Osório e de Fernando Pessoa, numa exposição
que se encontra integrada nos Dias do
Desassossego, uma iniciativa da Casa Fernando Pessoa e da Fundação
Saramago.
A flânerie está sempre presente no olhar de Brázio e as suas imagens são reflexo disso mesmo. Nesta exposição ele inverte a situação e torna o visitante num flâneur para assim poder vaguear em silêncio, pelo imaginário dos dois poetas. Não um silêncio mudo, mas o silêncio inquieto de desassossego que se move nessa penumbra que dá título à exposição. É este silêncio a linha diáfana que une os dois poetas e que nos guia pela exposição. A curadoria rigorosa conseguiu, em apenas doze imagens, estabelecer o diálogo entre eles devolvendo-o depois à fruição do público.
A flânerie está sempre presente no olhar de Brázio e as suas imagens são reflexo disso mesmo. Nesta exposição ele inverte a situação e torna o visitante num flâneur para assim poder vaguear em silêncio, pelo imaginário dos dois poetas. Não um silêncio mudo, mas o silêncio inquieto de desassossego que se move nessa penumbra que dá título à exposição. É este silêncio a linha diáfana que une os dois poetas e que nos guia pela exposição. A curadoria rigorosa conseguiu, em apenas doze imagens, estabelecer o diálogo entre eles devolvendo-o depois à fruição do público.
Um díptico recebe-nos à entrada. Nele vê-se um abrigo numa praia. Nas duas imagens, o mesmo abrigo simples e despojado. O jogo do preto e branco e da cor transforma o significado do mesmo objecto, criando uma multiplicidade que nos remete para os heterónimos de Fernando Pessoa. Existe porém, nesta imagem, um questionamento do autor sobre uma das centralidades da discussão fotográfica: o que é autêntico e o que é manipulado.
Na parede oposta, dialogando com o díptico, a imagem
de um rochedo batido pelo mar, brilhando na noite. A Natureza, “que ninguém possui
nem ninguém comanda” nas palavras de António Osório, reduz-nos aqui a meros
espectadores do seu poder e esplendor.
A meio desta sala cruzamo-nos com seis
fotografias. São imagens de imagens e ponte de diálogo entre as duas
fotografias anteriores, tornando-se absolutamente centrais em toda a narrativa
da exposição. Movidos por um impulso voyeurista, somos obrigados a rever vezes
sem conta essas imagens, talvez a procura de respostas ou apenas para encontrar
novas perguntas.
Na sala seguinte encontramos apenas uma foto;
a minha preferida.
Três cães buscam algo num campo de erva alta. Deles
não se vê o focinho nem o que farejam. O pelo malhado e a posição curvada dos
seus corpos lembram-me hienas dissecando uma presa. A ideia repugna-me, mas a
imagem seduz-me. A luz do Sol muito rasante, e o seu tom quente, denuncia o
principio de mais um dia. Esta poderá ser apenas uma cena de caça, mas o enigma
não tem qualquer solução. É esta tensão, de um tempo que ficou suspenso juntamente
com a luz que nos ofusca, que me atrai.
Deste local consigo ver a sala seguinte e
nela, perfeitamente enquadrada pela ombreira da porta, uma outra fotografia. A
relação, de cor e textura, das duas imagens salta à vista e convida-nos a
avançar.
Frente a esta imagem de um campo de feno, está
um céu coberto de nuvens espessas. Ambas partilham os mesmos tons e o mesmo
tipo de composição. A primeira é visualmente áspera, a segunda é suave. Apesar
disso a primeira remete-nos para uma sensação de conforto, de acolhimento e
intimidade enquanto a segunda, mais pesada, prenuncia tempestade e revolta.
Uma é Terra, outra é Ar.
O naturalismo de Osório e o misticismo de
Pessoa encontram-se neste espaço da exposição.
Esta flânerie de silêncio não pretende terminar
aqui, nesta ultima sala. O visitante é desafiado a continuar a sua busca pela
obra dos dois poetas, como no díptico inicial, em identidades que se opõem,
conflituam ou complementam.
Nesse momento, compreendemos que a imagem
inicial não é apenas um heterónimo de Pessoa. É também a dualidade dos poetas
aqui apresentada, funcionando como um portal que renova o ciclo da exposição
lançando o observador num eterno retorno.




