quinta-feira, 11 de janeiro de 2018

Minority Report

                Vencedor de diversos prémios, o filme Minority Report, de Steven Spielberg, é um filme de ficção científica lançado em 2002, baseado no livro de Philip K. Dick. Foi um dos filmes mais bem avaliados desse ano (atingiu 7,7 IMDb), e recebeu vários elogios pela sua escrita, efeitos visuais e temas retratados no filme. Foi um sucesso comercial, com um lucro de mais de 358 milhões de dólares em todo o mundo e 4 milhões de DVD’s vendidos, apenas nos primeiros meses de lançamento. O elenco inclui Tom Cruise, Colin Farrel, Samantha Morton e Max von Sydow. O filme tem como tema principal o livre arbítrio contra o determinismo, mas retrata diversos outros temas, entre os quais: o papel do governo na proteção dos cidadãos, a mídia num futuro em que os avanços tecnológicos tornam a sua presença quase sem limites e a legalidade.






                Em 2054, o departamento da polícia “PreCrime” impede os assassinatos antes dos mesmos acontecerem, através de três seres humanos com uma mutação genética – Precogs – que prevêm este tipo de crime, recebendo visões do futuro. Assim, a taxa de assassinatos nesse mesmo ano era zero, o ideal de cada nação. Ao impedir tal situação, os supostos assassinos ficam aprisionados na sua própria realidade virtual. Devido à elevada taxa de sucesso o governo federal decide adotar o programa.

                Enquanto isto, John Anderton – capitão do departamento PreCrime – depois do desaparecimento do seu filho Sean, divorciou-se e começou a ficar dependente do consumo de drogas. Mais tarde, quando o agente do Departamento de Justiça dos Estados Unidos, Danny Witwer, está a autorizar o programa PreCrime, os Precogs geram uma nova previsão: John Anderton vai assassinar Leo Crow em 36 horas. Apesar de Anderton não conhecer Crow, o suposto homem que irá matar, decide fugir enquanto Witwer ordena uma “caça ao homem”.

                Em busca de uma solução para o problema, o fugitivo procura o conselho da Doutora Iris Hineman, que criou a tecnologia do departamento PreCrime. A doutora revela que, às vezes, um dos Precogs, Agatha, tem uma visão diferente dos outros dois Precogs, ao que chamam de relatório minoritário (Minority Report), que basicamente corresponde a um futuro alternativo. Estes relatórios são mantidos em segredo, pois iriam prejudicar a credibilidade do sistema. Assim, Anderson decide recuperar o tal relatório do seu crime, para provar a sua inocência.

                Numa luta contra o tempo John Anderton vai tentar provar a sua inocência e a polémica falha no programa PreCrime até à hora do suposto assassinato de Leo Crow, com a ajuda de Agatha.

                Deixo, assim, a história em suspense, pois não quero revelar o final do filme porque, na minha opinião vale a pena ver, devido a todos os temas apresentados no filme, principalmente a questão do livre arbítrio. Uma das principais questões que o filme suscita é se o futuro já está definido ou se a nossa vontade pode alterar o futuro, se realmente existe o livre arbítrio. Para além disto, há também uma questão adicional: será que as visões dos Precogs são precisas ou até corretas? Ou será que de alguma forma algumas delas são adulteradas? No filme, a Precog Agatha afirma que uma vez que Anderton já conhece o seu futuro, pode mudá-lo. No entanto, o filme também indica que o conhecimento por parte de Anderton do seu futuro pode ser o fator que causa a morte de Leo Crow. Isto quer, portanto, dizer que a previsão impulsiona o ato, é uma profecia auto realizável.

                Outra questão, referida no filme, é que o sistema PreCrime está a prender indivíduos que não quebraram leis, apesar de quebrarem (ou não) no futuro. Os Precogs evitam que um crime seja cometido, mas que nunca chegará a acontecer. De acordo com uma personagem do filme, Kowalski, a unidade PreCrime condena indivíduos que, em situações precisas, escolheriam livremente cometer um assassinato.

                Resumindo, o filme apresenta um sistema jurídico em que o departamento PreCrime reúne imagens das mentes dos Precogs, ignorando a principal falha do sistema, e organiza-as numa ordem coerente para a sua exibição em frente a um conjunto de juízes, que analisam as imagens e fazem a sua decisão. Assim, o acusado nunca está presente nem é permitido defender-se contra as acusações, e é condenado sem antes saber que estava em julgamento. Por fim, o filme alerta os espectadores de que aqueles que controlam as imagens devem ser cuidadosamente supervisionados para evitar o abuso de poder, e termina com o dilema de que não haverá nenhuma maneira de escapar do poder da mídia no futuro mas, ao mesmo tempo, defende a necessidade de manipular instituições de imagem. Isto levanta outra questão, na medida em que a mesma preocupação poderia ser feita para os criadores de imagens, como por exemplo a Dream Works, mas a virtude do filme reside em provocar essa mesma questão.