Vencedor de diversos prémios, o
filme Minority Report, de Steven Spielberg, é um filme de ficção científica lançado
em 2002, baseado no livro de Philip K. Dick. Foi um dos filmes mais bem
avaliados desse ano (atingiu 7,7 IMDb), e recebeu vários elogios pela sua escrita,
efeitos visuais e temas retratados no filme. Foi um sucesso comercial, com um
lucro de mais de 358 milhões de dólares em todo o mundo e 4 milhões de DVD’s
vendidos, apenas nos primeiros meses de lançamento. O elenco inclui Tom Cruise, Colin
Farrel, Samantha Morton e Max von Sydow. O filme tem como tema principal o
livre arbítrio contra o determinismo, mas retrata diversos outros temas, entre
os quais: o papel do governo na proteção dos cidadãos, a mídia num futuro em
que os avanços tecnológicos tornam a sua presença quase sem limites e a
legalidade.
Em
2054, o departamento da polícia “PreCrime” impede os assassinatos antes dos
mesmos acontecerem, através de três seres humanos com uma mutação genética –
Precogs – que prevêm este tipo de crime, recebendo visões do futuro. Assim, a
taxa de assassinatos nesse mesmo ano era zero, o ideal de cada nação. Ao
impedir tal situação, os supostos assassinos ficam aprisionados na sua própria
realidade virtual. Devido à elevada taxa de sucesso o governo federal decide
adotar o programa.
Enquanto
isto, John Anderton – capitão do departamento PreCrime – depois do
desaparecimento do seu filho Sean, divorciou-se e começou a ficar dependente do
consumo de drogas. Mais tarde, quando o agente do Departamento de Justiça dos
Estados Unidos, Danny Witwer, está a autorizar o programa PreCrime, os Precogs
geram uma nova previsão: John Anderton vai assassinar Leo Crow em 36 horas. Apesar
de Anderton não conhecer Crow, o suposto homem que irá matar, decide fugir
enquanto Witwer ordena uma “caça ao homem”.
Em
busca de uma solução para o problema, o fugitivo procura o conselho da Doutora
Iris Hineman, que criou a tecnologia do departamento PreCrime. A doutora revela que, às vezes, um dos Precogs, Agatha, tem uma visão
diferente dos outros dois Precogs, ao que chamam de relatório minoritário
(Minority Report), que basicamente corresponde a um futuro alternativo. Estes relatórios são
mantidos em segredo, pois iriam prejudicar a credibilidade do sistema. Assim,
Anderson decide recuperar o tal relatório do seu crime, para provar a sua
inocência.
Numa
luta contra o tempo John Anderton vai tentar provar a sua inocência e a
polémica falha no programa PreCrime até à hora do suposto assassinato de Leo
Crow, com a ajuda de Agatha.
Deixo,
assim, a história em suspense, pois não quero revelar o final do filme porque,
na minha opinião vale a pena ver, devido a todos os temas apresentados no
filme, principalmente a questão do livre arbítrio. Uma das principais questões
que o filme suscita é se o futuro já está definido ou se a nossa vontade pode
alterar o futuro, se realmente existe o livre arbítrio. Para além disto, há
também uma questão adicional: será que as visões dos Precogs são precisas ou
até corretas? Ou será que de alguma forma algumas delas são adulteradas? No
filme, a Precog Agatha afirma que uma vez que Anderton já conhece o seu futuro, pode mudá-lo. No entanto, o filme também indica que o conhecimento
por parte de Anderton do seu futuro pode ser o fator que causa a morte de Leo
Crow. Isto quer, portanto, dizer que a previsão impulsiona o ato, é uma
profecia auto realizável.
Outra
questão, referida no filme, é que o sistema PreCrime está a prender indivíduos
que não quebraram leis, apesar de quebrarem (ou não) no futuro. Os Precogs
evitam que um crime seja cometido, mas que nunca chegará a acontecer. De acordo
com uma personagem do filme, Kowalski, a unidade PreCrime condena indivíduos
que, em situações precisas, escolheriam livremente cometer um assassinato.
Resumindo,
o filme apresenta um sistema jurídico em que o departamento PreCrime reúne
imagens das mentes dos Precogs, ignorando a principal falha do sistema, e
organiza-as numa ordem coerente para a sua exibição em frente a um conjunto de
juízes, que analisam as imagens e fazem a sua decisão. Assim, o acusado nunca
está presente nem é permitido defender-se contra as acusações, e é
condenado sem antes saber que estava em julgamento. Por fim, o filme alerta
os espectadores de que aqueles que controlam as imagens devem ser
cuidadosamente supervisionados para evitar o abuso de poder, e termina com o
dilema de que não haverá nenhuma maneira de escapar do poder da mídia no futuro mas, ao mesmo tempo, defende a necessidade de manipular instituições de imagem.
Isto levanta outra questão, na medida em que a mesma preocupação poderia ser
feita para os criadores de imagens, como por exemplo a Dream Works, mas a
virtude do filme reside em provocar essa mesma questão.