Ao que parece, não demorará muito para que o homem também passe a ser uma espécie de deus, criando à sua imagem inteligências artificiais espelhadas nos seus pensamentos e sentimentos, de modo a que possam evoluir de maneira livre. No cinema, já nos foi apresentado algo parecido em vários filmes como por exemplo: INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL, de Steven Spielberg.No entanto, poucos foram os filmes que lidaram de maneira tão romântica com essa questão, como acontece em "HER", de Spike Jonze. Sendo um autor bem característico, de tal romanticismo e delicadeza presentes nas suas curta-metragens e videoclips, onde é mais frequente o seu trabalho.
"HER", de acordo com o estilo do autor, é uma junção de uma suposta natureza cerebral, tratando-se de um universo de ficção científica, com um tratamento mais amoroso, ao abordar a história de um homem que se apaixona por um sistema operacional.
Mas não se trata de um sistema operacional qualquer. É um "OS" com a voz, a sedução e o senso de humor de Scarlett Johansson, que aqui ganha o nome de Samantha. O homem, interpretado por Joaquin Phoenix, tem o nome de Theodore, e está a passar por um momento bastante difícil da sua vida. Após a separação da esposa (Rooney Mara), ele nunca mais é o mesmo. Sonha com ela constantemente. O seu trabalho é particularmente interessante: Theodore escreve cartas de amor numa empresa especializada no ramo. E ele é muito bom nisso, tendo muita sensibilidade no uso das suas palavras quando escreve.
O futuro ilustrado no filme, ao mesmo tempo que facilita as conexões, também afasta as pessoas. Mais ou menos como podemos sentir atualmente, onde os contatos virtuais começam cada vez mais a substituir o espaço dos contatos físicos. A vantagem é que podemos conhecer e gostar de certas pessoas sendo menos influenciados pela sua aparência mas sim influenciados pela sua maneira de pensar, pelo seu espírito, por assim dizer.
Quanto a Theodore, ironicamente, nem mesmo o seu trabalho o impede de ficar cada vez mais deprimido com a sua solidão. Até ao dia em que descobre um sistema operacional com quem pode conversar e ainda auxiliá-lo em diversas tarefas. O primeiro contato com o tal sistema, Samantha, já é bastante impressionante. Samantha parece uma pessoa real, embora tenha consciência de que não tem corpo e ainda questiona a natureza dos próprios sentimentos. Aos poucos, a relação dos dois adquire um estatuto de relacionamento afetivo. E isso começa a fazer muito bem a Theodore, que, com a ajuda de Samantha, consegue preencher o vazio no peito provocado pela falta da ex-mulher.
Obviamente, este não é o resumo da história completa, que ganha um desenvolvimento empolgante e muitas vezes bizarro e um final belíssimo. E Jonze consegue isso a partir de um roteiro muito bem escrito por ele mesmo, apresentando-nos discussões de relacionamento aparentemente inéditas no cinema, com um grau de profundidade que faz com que o filme seja adequado a publico adulto. Além do mais, há também todo um cuidado no uso das cores, com um belo trabalho de fotografia do holandês Hoyte Van Hoytema, no desenho de produção e nos figurinos futuristas, na música da banda canadense Arcade Fire, e no elenco de apoio, composto por outras personalidades, como Amy Adams, Rooney Mara e Olivia Wilde.
"HER" foi nomeado para o Oscar nas categorias de melhor filme, roteiro original, banda sonora original, canção (“The Moon Song”, de Karen O e Spike Jonze) e desenho de produção.
Um filme como este deixa o seu publico a questionar realmente as relações que hoje a sociedade tem com os nossos dispositivos moveis ou mesmo fixos, o que talvez à primeira vista pareça ser uma ideia ridícula, mas se calhar, bem aprofundada perca todo o seu sentido cómico, e passe a ser algo que questionável a nível moral e ético.
