“Black Mirror” é uma série antológica de televisão britânica, de drama e ficção científica, criada por Charlie Brooker, e que ganhou mais destaque quando foi comprada e publicada pela Netflix. Inspirada por “The Twilight Zone”, e originalmente lançada em 2011, vai presentemente na quarta temporada, que foi publicada em dezembro de 2017. Cada temporada tem entre 3 a 6 episódios e cada episódio funciona como uma história independente, pelo que não segue uma lógica em relação ao episódio anterior, ou seja, embora o tema geral seja comum a todos os episódios, o enredo, os cenários e as personagens são sempre diferentes.
O enredo de “Black Mirror” pretende criar uma sátira da sociedade moderna, centrando-se
nas questões em torno do avanço da tecnologia e nas consequências que este pode
vir a representar para a nossa sociedade. A ideia para esta série surgiu há
alguns anos atrás quando a Apple introduziu
a Siri e, assim, Charlie Brooker deu
por si mesmo a falar com uma máquina. Acabando por se aperceber que a
tecnologia está presente em praticamente todas as atividades do nosso dia a dia,
Brooker começou a questionar-se sobre quais serão os seus efeitos secundários
na sociedade atual e futura.
“That's what
we're aiming for with Black Mirror: each episode has a different cast, a
different setting, even a different reality. But they're all about the way we
live now – and the way we might be living in 10 minutes' time if we're clumsy.
And if there's one thing we know about mankind, it's this: we're usually
clumsy. And it's no use begging Siri
for help. He doesn't understand tearful pleading. Trust me, I've tried.”
-Charlie Brooker
Assim, a ação decorre num presente alternativo ou num futuro
próximo em que, graças à tecnologia, quase tudo é possível. Desde implantes de
memória que registam tudo aquilo que fazemos, vemos e ouvimos e que tornam
possível a reprodução das nossas memórias, que ficam gravadas numa espécie de “cloud” (3º episódio, 1ª temporada); a
um serviço que faz com que seja possível falarmos com uma versão virtual de
alguém que já morreu, construída a partir de fotografias, vídeos e do seu
perfil nas redes sociais (1º episódio, 2ª temporada); até uma realidade
alternativa na qual a sociedade é controlada com base numa rede social em que
as pessoas se avaliam mutuamente através de um sistema que vai até 5 estrelas,
sendo que quem tem a avaliação mais alta é quem tem mais regalias na sociedade
(1º episódio, 3ª temporada).
Este mundo de “Black Mirror” deve ser encarado como uma hipérbole do que a nossa sociedade e a humanidade se podem vir a tornar com a evolução da tecnologia. A sátira centra-se, portanto, no nosso vício por gadgets e pelas redes sociais e nas questões éticas e sociais que estão, ou deviam estar, associadas ao avanço da tecnologia e que não devíamos deixar de questionar.
Quando vemos a série, sentimo-nos como parte de uma realidade que, embora no início pareça sempre muito satisfatória e tecnologicamente avançada, acaba sempre por se tornar em algo distópico, onde as personagens (que começam por ser pessoas comuns com as quais facilmente nos identificamos) são levadas ao extremo nas mais diversas situações, acabando muitas vezes por cair na desgraça social, por serem presas, por se tornarem em ladrões e assassinos ou até por morrerem. Desta forma, sempre que o episódio acaba estamos a perguntar-nos “como é que aquilo aconteceu?” e a pensarmos que facilmente podíamos ter sido nós a acabar naquelas circunstâncias, já que, aparentemente, as personagens não conseguiram evitar todos os acontecimentos que as levaram àquele final. E é assim que damos por nós totalmente envoltos nas questões relacionadas com os lados positivos, e principalmente, negativos, do que a tecnologia pode vir a tornar-se dentro de alguns anos, se nos distrairmos e de repente já não formos capazes de impor limites, esquecendo-nos das questões éticas relacionadas, por exemplo, com a consciência humana.
Em suma, “Black Mirror” é uma série que explora uma perspetiva satírica da sociedade. Com temas que, ainda que sejam de ficção científica, já não estão muito longe da realidade atual e do que pode vir a ser possível dentro de alguns anos através da evolução tecnológica, devendo ser, por isso, do interesse de todos, sendo que nos alertam para os perigos e para os possíveis efeitos secundários do avanço da tecnologia.
Trailer da 3ª temporada de "Black Mirror":
Deixo aqui, um comentário de Charlie Brooker sobre o início de “Black Mirror”
“Black Mirror” no IMDB
